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Mario Vitor Rodrigues

Mario Vitor Rodrigues

A cilada petista

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Afora as recentes barbaridades ditas por Jair Bolsonaro, todas dignas de um perfeito sociopata, o comentário que mais me chamou a atenção ao longo da semana foi do ex-prefeito de São Paulo, Fernando Haddad: “A direita tem o Ciro, Moro, Mandetta, Huck, Dória, qual é o problema?”.

O contexto da fala — uma reação ao posicionamento público de Ciro Gomes sobre a necessidade de passar pelo PT no primeiro turno para enfrentar Bolsonaro no segundo — pouco interessa. Colocar Ciro na mesma prateleira de Sérgio Moro e associá-lo à direita extrapolaria os limites da desfaçatez para qualquer um. Exceto um petista.

Decifrar o habitual cinismo do Partido dos Trabalhadores não é difícil, basta olhar para sua história e evidenciar seu DNA hegemônico. Se isso não for suficiente, o maior líder da legenda desenha.

Em 14 de novembro de 2019, durante Executiva Nacional do partido em Salvador, Lula não poderia ter sido mais claro: “O PT não nasceu para ser partido de apoio”. Era o seu primeiro momento de grande exposição após ter deixado a cadeia; o ex-presidente não escondeu nada: “Sabe quem polariza? Quem disputa o título. O PT polarizou em 1989, 94, 98, 2002, 2006, 2010, 2014 e 2018. E vai polarizar em 2022!”.

Luiz Inácio até deu sua opinião sobre o apelo, ao que parece inclusive interno, para que o partido faça uma autocrítica: “Tem companheiro do PT que também fala que tem que fazer autocrítica. Faça você a crítica. Eu não vou fazer o papel de oposição. A oposição existe para isso”.

É forçoso reconhecer que, do ponto de vista estritamente político, Lula não está errado. A questão que se impõe, novamente, é entender que os interesses do PT vão de encontro aos do país. Uma constatação que talvez jamais tenha ficado tão clara quanto agora.

O petismo joga com a rejeição a Bolsonaro. Aposta no “quanto pior, melhor” e em sua capilaridade nacional para voltar ao poder. O cenário só não é idêntico ao de 2018 porque o presidente tentará a reeleição, de resto estamos falando da mesmíssima cilada que há quase dois anos arrastou o Brasil para uma barafunda inaudita.

Basicamente, a arapuca consiste na premissa de que o petismo pode fazer melhor do que o bolsonarismo. Talvez até possa, mas quando o nível de exigência se torna tão rasteiro pouco interessa o vencedor: a sociedade sempre sairá perdendo.

Houve um tempo em que Dilma Rousseff foi tida como a pior governante em nossa história. A hipótese de que alguém pudesse superá-la em destempero, na visão geiselista da economia e na desconexão com a realidade fazia rir. Então surgiu Jair Bolsonaro.

O mito é sem dúvida incapaz de conduzir a nação, o pior inimigo que a democracia poderia enfrentar e grotesco quando se trata de princípios humanistas. Seu desgoverno, contudo, jamais tornará o legado petista melhor do que de fato foi.

Lula e Bolsonaro dividem o mesmo sonho: disputar o 2° turno em 2022. Se tanto sofrimento e intolerância impostos por uma dicotomia que só interessa aos extremos nos tiver ensinado alguma coisa, evitaremos esse pesadelo.

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