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Mario Vitor Rodrigues

Mario Vitor Rodrigues

A falácia do “eu não tive escolha”

Foto: Albari Rosa/Gazeta do Povo (Foto: )

Não tem jeito, um sistema em que o voto é obrigatório e a polarização é estimulada só pode mesmo levar ao autoengano coletivo. Assim, acossado por um discurso paternalista e toda sorte de oportunismos políticos, o cidadão se vê encurralado: participa da “festa da democracia”, mas não evita a ressaca depois — o peso na consciência; a recusa em admitir que poderia ter adotado outras escolhas.

É exatamente o que acontece hoje, evidenciada a incompetência do governo para conduzir o país. Quando interpelados, seus eleitores enfatizam o fato de não terem tido outra saída. Ponderação essa às vezes externada sem que nem mesmo haja qualquer tipo de provocação.

Entendo perfeitamente a escolha por Jair Bolsonaro quando a outra opção era Fernando Haddad. Parece-me injusto que o sujeito devesse se sentir obrigado a votar no PT, mesmo após o partido ter comandado o país por quase duas décadas, afundado a economia e liderado um esquema inédito de corrupção para se perpetuar no poder.

Diga-se, igualmente respeito quem optou pelo ex-prefeito paulistano. Precisar o nível de bizarrice instaurado hoje no Executivo seria pedir demais, porém não é possível afirmar que Jair Bolsonaro surpreende. O viés autoritário, a falta de cuidado com as palavras, um histórico sofrível como parlamentar e as ameaças às minorias, tudo esteve, o tempo inteiro, às claras.

Entretanto, é importante pôr um ponto final nessa mentira branca que pinta a eleição passada como tendo sido uma tragédia inescapável para os brasileiros. Principalmente nos casos daqueles que elegeram a atual administração ou disseram amém para o retorno do petismo ao poder.

Sim, no dia 28 de outubro do ano passado a sociedade se deparou com uma escolha de Sofia: ou bem elegia uma espécie de Macaco Tião, inventado para surfar a repulsa ao petismo, ou coroava o Partido dos Trabalhadores e a esquerda, que tantos crimes haviam cometido contra os cofres públicos.

Acontece que tal impasse apenas resume o segundo turno do pleito. Houve um primeiro.

“O Alckmin não tinha chance!”, alegarão uns. “Eu iria de Amoedo, mas seria jogar voto fora”, dirão outros. “Marina ou Ciro eram os meus preferidos, mas Haddad apareceu como única alternativa possível para derrotar o Bolsonaro”, dissertam aqueles mais à esquerda. Pois bem, esses e todos os possíveis argumentos nesse sentido podem ser feitos, contudo apenas confirmam o fato de que, sim, houve opções além de Jair Bolsonaro e Fernando Haddad.

O debate a respeito do porquê a vontade de pessoas dispostas a apoiar os extremos prevaleceu na última eleição é necessário. Passa inclusive pelas primeiras linhas deste texto. Todavia, para que ele comece é imperativo antes reconhecermos a nossa postura passiva na ciranda eleitoral.

Um comportamento que só pode ser considerado aceitável se quisermos perpetuar um ciclo vigente há décadas. E que no fim das contas leva ao arrependimento.

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