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Mario Vitor Rodrigues

Mario Vitor Rodrigues

A ilusão do cisne negro

imagem: Pixabay (Foto: )

Filho do presidente agraciado com embaixada, rasteiras em instituições que investigavam abusos da nova corte e o dano causado à imagem do país após as queimadas na Amazônia. Tudo isso sem falar na habitual falta de compostura de ministros. Motivos para intuir a crescente antipatia ao governo, escancarada pelas últimas pesquisas, jamais faltaram. A reação de Jair Bolsonaro e de sua claque, contudo, também não poderia ser mais previsível: negação.

Terminada a eleição em outubro do ano passado, o que se viu foi uma expiação pública daqueles que colocaram em dúvida o desfecho da disputa. Como hienas raivosas, fãs do mandatário espezinharam quem em algum momento levou em conta as referências que desde sempre balizaram o processo eleitoral brasileiro: o tempo de televisão, a importância de um partido robusto, a força de nomes mais conhecidos e experientes.

Azar do analista que não foi agraciado com sensibilidade mediúnica suficiente para antever um atentado à vida do candidato — possibilitando mais exposição na mídia do que qualquer campanha, além de abafar o criticismo por evitar os debates no 2° turno.

Há poucas semanas, o próprio Bolsonaro fez questão de confirmar que tal momento de soberba não passou: “A campanha acabou para a imprensa! Eu ganhei! Eu ganhei, porra!”.

Tamanha empáfia só pôde ser vista quando o PT dava as cartas. Especialmente durante os estertores da Era Rousseff, quando partido e apoiadores repudiavam os sinais claros de que sua popularidade começava a se deteriorar. Preferiam tachar cada mínima bateção de panelas, e mesmo manifestações grandiosas, como falanges de um temerário fascismo. Delírio. Pura fantasia de quem se recusava a encarar o reflexo no espelho.

Entretanto existe uma diferença fundamental entre o fim da hegemonia petista e este momento pelo qual passa o governo: a robustez do Partido dos Trabalhadores não pode ser comparada com a do PSL. Nem tampouco a fidelidade e o tamanho de sua militância. Tanto assim que o primeiro levou quase duas décadas no poder.

A prepotência da onda reacionária interessada em domesticar o Brasil se ancora no ineditismo do seu sucesso. Isso é perceptível a cada vez que, como menestréis ensimesmados, mito e asseclas recitam seu bem-sucedido desafio à lógica eleitoral. O problema é que esse comportamento começa a turvar a percepção da realidade.

Jair Bolsonaro não deveria esquecer como se deu a sua eleição. Precisa ter alguém ao seu lado, quem sabe diariamente, para relembrá-lo da importância decisiva do PT na sua vitória. E de que boa parte das pessoas que votaram nele o fizeram não por causa do seu jeito, de suas ideias ou visões do mundo, mas apesar delas.

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