Não concordei com a decisão da Gazeta do Povo. Defender o direito de expressão pode ser virtuoso, mas combater posicionamentos vis é fundamental.
Não se trata de impor limites e sim de assumir responsabilidades. Rejeitar opiniões que afrontem os parâmetros mais básicos de empatia e humanismo extrapola o recomendável. É um dever.
Não concordei com a Gazeta do Povo, entretanto não posso endossar um linchamento virtual — prática cada vez mais comum, às vezes estimulada pelos chamados influenciadores, outras, por perfis sem rosto.
Quem caça os patrocinadores de um veículo com a intenção de constranger a empresa a tomar determinada medida deveria se perguntar quem de fato está sendo prejudicado. Seriam os tomadores de decisão ou a moça do café? Alguém do alto escalão ou o vigia da guarita?
Exemplos extremos ajudam a escancarar o óbvio, todavia repórteres, editores, estagiários e uma infinidade de pessoas que não têm qualquer ligação com o comentário de um colunista não podem ser esquecidos.
Como toda tirania, a do cancelamento não prima pela justiça, mas o desserviço não para por aí.
Além de movimentos artificiais — uma vez que apenas alcançados por meio da asfixia financeira, não do diálogo e do convencimento —, o que essas emboscadas realmente promovem é o coroamento da nossa mediocridade civilizatória: se a referência do que é inadmissível passa pelo amedrontamento, como ficarão os maus hábitos que não suscitarem rebuliço? Que incentivo uma organização terá para revê-los?
Tão importante quanto tudo isso é enfrentar a pergunta sem resposta: quem define o inadmissível?
Empresas podem demitir empregados, patrocinadores têm o direito de romper contratos, e cabe à Justiça determinar se uma conduta é passível de sanção. A sociedade pode se organizar e é saudável que o faça, contudo não há espaço para guerrilhas virtuais em um ambiente democrático.
Indignar-se com a crueza de alguém que em meio a uma pandemia organiza um convescote é necessário. Idem quando um time de futebol contrata um jogador acusado de estupro. Mais ainda se há tentativa de relativizar um crime hediondo.
Nada disso legitima o abafamento do diálogo, o justiçamento e o atropelo anônimo de inocentes.
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