Foto: Yasuyoshi Chiba/AFP| Foto:

Quem primeiro me fez enxergar a postura de Fernando Henrique Cardoso sob uma perspectiva diferente foi Zeina Latiff, economista-chefe da XP Investimentos, durante entrevista recente para ouvir suas impressões a respeito dos candidatos à Presidência e as expectativas do mercado.

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Até ali, confesso, as manifestações públicas do único presidente até hoje eleito e reeleito ainda no primeiro turno, derrotando Lula em ambas as ocasiões, não tinham sido, para mim, muito simpáticas.

Esperava sempre por um tom mais firme com relação aos escândalos protagonizados pelo PT. Especialmente nas vezes em que o nome de Luiz Inácio esteve no centro das discussões.

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Entretanto, e foi justamente esse o ponto levantado por Zeina, se alguns dos posicionamentos de Fernando Henrique podem ser contestados, acusá-lo de evitar o debate público é impossível.

Ao contrário de políticos que apenas dão as caras em épocas eleitorais, como por exemplo Marina Silva, FHC sempre fez questão de dizer o que pensa. Jamais deixou de ser tucano, portanto raríssimas foram as vezes em que opinou de maneira contundente, porém esteve longe da abstenção.

Além deste ponto, a qualidade das recentes manifestações do grão-mestre tucano, ao menos enquanto João Dória não se apodera de vez do partido, reafirma o motivo de sua passagem pelo Palácio da Alvorada poder ser considerada um acidente de percurso.

Antes de mais nada, é claro, houve a habilidade de trazer para si o selo de criador do Plano Real e a constatação por parte da sociedade de que o projeto de fato mudou o país. Não tivessem as circunstâncias caminhado bem para Persio Arida, Gustavo Franco, André Lara e grande elenco, a história certamente não teria sido a mesma para o então Ministro da Fazenda.

Depois, é preciso dizer, assim como qualquer candidato, de Lula a Bolsonaro, Fernando Henrique não merece ser endeusado. E a emenda da reeleição dá bem o tom do porquê.

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Ainda assim, noves fora as imperfeições que não extrapolem a legalidade, como aconteceu com seus sucessores, FHC se impõe por características desgraçadamente tidas como supérfluas entre nós: diplomacia, recurso intelectual e respeito às instituições.

Se levarmos em conta que sucedeu Fernando Collor de Mello e foi sucedido por Lula e Dilma, sem contar com o futuro mandatário do país e sua prole e a inequívoca fanfarronice adotada por estes, não resta dúvida, trata-se de um autêntico acidente de percurso.

Uma constatação que, aliás, diz muito sobre nós.