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O clima de comoção sempre prevaleceu quando o nome de Lula esteve envolvido em o que quer que seja. Foi assim durante a sua fase de líder sindical, a partir do momento em que começou a disputar a Presidência, ao longo da hegemonia petista no poder e, talvez acima de todos esses momentos, no dia da sua prisão.

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Não seria diferente com o anúncio de que o Ministério Público Federal enviou ao Superior Tribunal de Justiça (STJ) um parecer indicando que o ex-presidente já poderia passar a cumprir pena em regime semiaberto. Nesse sentido, a reação por parte da base bolsonarista, pautada pela indignação, era esperada.

Preso desde o dia 7 de abril do ano passado, condenado por corrupção e lavagem de dinheiro na Operação Lava-Jato, a tendência é que Lula sofra novas condenações. Em especial no caso do sítio em Atibaia (SP). Além disso, a progressão para o regime semiaberto está longe de ser uma figura exótica. Prevista em lei, a decisão pode contemplar quem cumpre um sexto da pena e leva em consideração vários aspectos, como bom comportamento.

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Contudo, nada disso interessa à parcela da sociedade que decidiu acolher cegamente Jair Bolsonaro. Para ela, quando se trata de Lula não cabe apenas fazer valer a justiça. É fundamental conquistar a vingança. E não só por ele ter capitaneado um movimento que levou a contínuos assaltos aos cofres públicos, ao derretimento da Petrobras e ao sequestro da nossa democracia. Tampouco a disseminação de uma dicotomia responsável pelo surgimento do próprio bolsonarismo é capaz de gerar tanta mágoa.

Lula precisa pagar, acima de tudo, por ter sido o presidente mais popular de nossa história recente. É essa a realidade. É esse o real cerne de tamanho inconformismo.

Não por acaso, perdidos em sua sanha os bolsonaristas talvez não estejam enxergando aquela que pode ser uma ótima oportunidade para o governo.

Com o sexto mês de mandato já iniciado, sem contar os dois de transição, a verdade é que não é fácil distinguir o ambiente que envolve a administração Jair Bolsonaro do período eleitoral. O motivo para isso recai na estratégia adotada pelo núcleo duro do bolsonarismo, incluindo o presidente da República, em se apoiar na rejeição popular à política e no antipetismo para viabilizar transformações pautadas em uma visão caricata de conservadorismo.

Uma vez constatado que a realidade pode ser mais desafiadora do que sugerem os calores de um pleito polarizado — como demonstram a queda na popularidade, o afastamento de grupos e formadores de opinião importantes para o sucesso nas urnas, as seguidas derrotas no Congresso e a falta de traquejo para formar maioria —, restou ao governo tentar cumprir o papel para o qual foi eleito e, ainda que de maneira atabalhoada, buscar o diálogo com a classe política.

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Todavia, noves fora o irremediável problema da inaptidão, ou, melhor dizendo, justamente por conta dele, Bolsonaro sabe que não pode abrir mão da demagogia e do populismo barato. Não pode abandonar a sua claque fiel, sob pena de nem sequer terminar o mandato. É precisamente na fabricação de espantalhos, afinal, que será capaz de mascarar fracassos e atribuir culpas.

Como à sua maneira salientou Ciro Gomes, Lula não está no governo. Ainda assim, pode funcionar à perfeição como o pano vermelho capaz de cegar o touro bravio. Chamariz ideal para ressuscitar instintos adormecidos, enquanto a oposição faz pouca diferença nos tropeços do governo e a prometida virada na economia parece a cada dia mais improvável.