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Mario Vitor Rodrigues

Mario Vitor Rodrigues

As lições da disputa americana

Foto: SAUL LOEB / AFP (Foto: )

Não, Jair Bolsonaro não é Donald Trump. Tampouco o Brasil pode ser comparado aos Estados Unidos. Há uma vastidão de diferenças entre o funcionamento do sistema eleitoral americano e o nosso, entre a formação do eleitor médio em ambos os países; até na maneira como cada sociedade entende o conceito de cidadania. Dito isso, o cenário por aqui apresenta, hoje mesmo, circunstâncias que poderiam servir de lição aos brasileiros. Tanto para eleitores quanto para políticos — dada a similaridade dos momentos de extrema polarização e o fato de a eleição americana ocorrer depois.

A oposição americana, por exemplo, vive um dilema que aos poucos começa a fazer parte das discussões no Brasil, tendo em vista o pleito em 2022: há uma ala mais progressista, tachada de radical pelo presidente Trump, simplesmente incapaz de digerir o favorito à nomeação, Joe Biden.

Segundo pesquisas recentes, essa parte do eleitorado democrata, mais jovem, abaixo dos quarenta anos, deseja que o Partido indique alguém inequivocamente progressista. Há uma preferência pelo eterno Bernie Sanders, mas a também senadora Elizabeth Warren não seria de todo ruim. Kamala Harris e Pete Buttigieg correriam por fora.

Ocorre que todos esses nomes se encaixam no perfil de adversário ideal para Donald Trump. Quanto mais identificado com as pautas da esquerda, mais fácil será para o presidente atribuir rótulos, semear a retórica da frouxidão no quesito segurança, do receio de um desarmamento em massa e de que a economia, hoje sólida, saia do prumo.

Tudo isso será mais difícil caso Biden seja escolhido pelo partido na Convenção Nacional Democrata em meados do próximo ano. Tanto pelo fato de o ex-vice-presidente contar com o apoio maciço do eleitor negro, herdado de seus anos de parceria com Barack Obama, quanto por se enquadrar no mesmo perfil demográfico do candidato republicano (homem, branco e septuagenário).

Situação parecida começa a se desenhar no cenário brasileiro, de certa forma ensejada em outubro de 2018: o PT, ladeado por legendas satélites, não abriu mão de lançar o seu candidato. Ciro Gomes, outro que não prima pela moderação, correu por fora. Enquanto isso, nomes como o de Marina Silva e Geraldo Alckmin foram achatados por ambos os polos, para deleite do bolsonarismo.

Não tenho dúvida em afirmar que, se pudesse, Trump escolheria como adversário Bernie Sanders, Elizabeth Warren ou até Kamala Harris. Assim como Bolsonaro, caso lhe fosse concedido o poder de escolha, não pensaria duas vezes em pinçar um genuíno representante da esquerda estereotipada. De preferência um candidato petista.

Tanto aqui quanto no Brasil, pelo menos para o eleitor cansado da radicalização dos debates e de uma polarização que começa a afetar toda sorte de agendas, o caminho parece ser um só: o do meio.

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