Diante do pior governo em toda a história da República, e o que mais ameaça a democracia desde a ditadura militar, argumentos que não privilegiem críticas a Jair Bolsonaro soam deslocados. Identificar a origem do radicalismo que permeia o atual momento, porém, é fundamental para entender a eleição de alguém tão reacionário. Assim como o motivo de estarmos às portas de outro pleito polarizado.
A intolerância que hoje sufoca o diálogo nasceu da sanha hegemônica de quem desde 1989 radicaliza o debate. Apesar disso, desconheço democratas que não estejam dispostos a votar em qualquer um para impedir que Bolsonaro seja reeleito. Até mesmo em Lula.
Dizer que Bolsonaro e PT são iguais, mais do que errado, alimenta a tese da falsa simetria. Iguais não são, porém o autoritarismo de um não apaga o do outro. Os achaques golpistas de Jair não validam a narrativa de que o PT sempre respeitou as regras do jogo democrático.
Defender que um presidente deve ser afastado e usar dos meios constitucionais para atingir esse objetivo pode até fazer parte o jogo. Pedir o impeachment de todos os mandatários democraticamente eleitos desde a reabertura, entretanto, não é digno de quem alega ter sofrido golpe quando o chumbo é trocado.
“Eles têm que apanhar nas ruas e nas urnas”, declarou em 2000 o então presidente nacional do PT e futuro ministro da Casa Civil, José Dirceu. Poucos dias depois, Mário Covas, à época governador de São Paulo, foi vítima de agressões físicas por baderneiros covardes. Desnecessário dizer que incentivar violência não é exatamente um exemplo de apreço pela democracia.
“Algumas pessoas veem a capa da revista, não gostam e querem que eu faça um marco regulatório. Isso não é possível porque a Constituição não prevê esse tipo de regulação para a mídia escrita”, confessou o então ministro da Comunicação do governo Dilma, o petista Paulo Bernardo, sobre as críticas que vinha recebendo de setores do PT e da esquerda por não dar seguimento ao projeto de regulação da mídia, pauta que desde o governo Lula sempre fez parte do ideário petista e foi defendida por Fernando Haddad em 2018. Quem bem definiu a situação ao ser questionado sobre o tema, também na época da última eleição presidencial, foi Ciro Gomes: “Isso é coisa da ditadura”.
Por falar em ditadura, talvez não exista maior afronta aos preceitos democráticos do que defender abertamente regimes cruéis e autoritários como fazem o PT e boa parte da nossa esquerda. Os exemplos cubano e chavista deveriam ser repudiados por qualquer um, mas no Brasil a tara ideológica parece impedir essa compreensão.
Há também a corrupção promovida pelo petismo enquanto o partido governou o Brasil. Não se trata somente de assaltar os cofres públicos, como se isso fosse coisa pouca, mas de instrumentalizar um esquema para se perpetuar no poder, o que ficou comprovado no escândalo do mensalão.
Por fim, o exemplo mais claro desse “autoritarismo do bem” fica evidenciado na pressa e virulência com que não só dirigentes políticos, mas também quem participa do debate público interditam a discussão sobre uma alternativa à disputa entre bolsonarismo e petismo.
O sujeito pode perfeitamente preferir que Lula volte ao poder. Estigmatizar e abafar tentativas de buscas por uma opção a esse ambiente de polarização tóxico em que vivemos, contudo, prova que o entendimento do que deveria ser um debate livre e o respeito às divergências ainda têm muito o que evoluir no nosso país
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