“Cansado de show. O Brasil não é um país de maricas. É tolerante demais com a desigualdade social, corrupção, privilégios. Votou contra extremismos e corrupção. Votou por equilíbrio e união. Precisa de seriedade e não de show, espetáculo, embuste, fanfarronice e desrespeito.”
O comentário é do ex-ministro da Secretaria de Governo da Presidência da República (Segov), general Santos Cruz. Foi por meio de sua conta no Twitter, na última quinta-feira (12), que deu-se o desabafo.
No dia seguinte, foi a vez do comandante do Exército, general Edson Pujol, vir a público dar o seu recado. Durante live organizada pelo ex-ministro da Defesa, Raul Jungmann, Pujol lembrou que os militares “não são uma instituição de governo” e que não mudam sua maneira de pensar e cumprir missões “a cada 4 anos”. “Nosso partido é o Brasil”, completou o general.
Ambas as manifestações contaram com o mesmo pano de fundo: durante a semana, Jair Bolsonaro comemorou um suicídio, celebrou a suspensão dos testes de uma vacina para prevenir uma doença que já tirou a vida de quase 170 mil brasileiros, chamou quem teme a Covid-19 de “marica” e expôs as Forças Armadas ao ridículo quando sugeriu que o Brasil poderia entrar em guerra com os Estados Unidos.
As reações dos generais são compreensíveis; o espetáculo proporcionado pelo capitão foi grotesco. Contudo quem afiançou Bolsonaro deveria moderar sua indignação. Melhor ainda, pedir desculpas aos brasileiros.
Considerando que ambos os pronunciamentos foram sinceros, tanto Santos Cruz quanto Pujol ainda não entenderam o buraco em que as Forças Armadas se meteram. Tampouco o desserviço que prestaram ao país.
Santos Cruz afirmou que somos tolerantes demais com a desigualdade social, a corrupção e os privilégios. Concordo, em boa parte somos inclusive cúmplices, mas argumentar ainda hoje que votou-se “contra extremismos e corrupção”, sobretudo “por equilíbrio e união”, ultrapassa os limites do disparate.
O ex-ministro há de se lembrar: quase 60 milhões de brasileiros votaram em alguém que publicamente exaltou um torturador.
Já a tentativa de Pujol de descolar a imagem dos militares da gestão Jair Bolsonaro comove pelo otimismo, porém não tem como mascarar a realidade: já são mais de 6.000 militares da ativa e da reserva em cargos civis no governo.
É difícil assimilar que trinta anos após uma ditadura sangrenta que afastou, torturou e matou brasileiros, os militares tenham embarcado em uma aventura da qual não poderiam sair ilesos.
Que se valham do cinismo como biombo é imperdoável.
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