Sérgio Moro errou ao estabelecer com o procurador da República, Deltan Dallagnol, um relacionamento de camaradagem capaz de levá-lo a esquecer um preceito fundamental na função de todo juiz: a imparcialidade. Percepção essa que não melhora quando, no afã de defendê-lo, argumenta-se que os diálogos apresentados até agora pelo Intercept Brasil são comuns no campo jurídico. Podem até ser comuns, porém não deixam de ser, no mínimo, inadequados.
Doutores são livres para contestar o peso que as conversas reveladas entre o então juiz e o comissário têm em face à realidade de seu ofício, contudo é perda de tempo debater se há ou não dano político à imagem de Moro. Esse já é de uma realidade devastadora — apesar de uma notável legião de seguidores convictos da sua inocência e dispostos a refutar peremptoriamente quaisquer críticas.
Como já deixei claro, defendo que o ministro abandone o governo. Permanecer, ou até demorar em sair, apenas servirá para duas coisas: sangrar ainda mais a imagem da operação Lava Jato e munir setores radicais da esquerda com retóricas oportunistas.
Não por acaso, habita justo nesse segundo aspecto o fiapo de narrativa a que Moro pode se agarrar para fazer hora extra na administração federal, a despeito deste não alterar o estrago imposto pela sua conduta.
O valor do furo jornalístico não se discute. É sem dúvida de interesse público tomar conhecimento de um contato que flerte com a promiscuidade entre um magistrado e um procurador da República. Principalmente em se tratando de personagens populares, como é o caso. Todavia, os recorrentes posicionamentos de figuras como a presidente do PT, a deputada Gleisi Hoffmann, e do próprio grão-mestre do Intercept, têm o poder de turvar até o indiscutível.
Por mais curioso que possa parecer, o caso da líder petista, que chegou a chamar Moro e Deltan de “criminosos”, talvez afete menos. O contexto histórico e o fato de liderar uma legenda incapaz de assumir responsabilidade pelo maior esquema criminoso já organizado por um grupo político contra a sociedade e democracia brasileiras, amplamente comprovado pela Justiça, fala por si. Já o do premiado jornalista extrapola a desfaçatez.
Não há problema algum em Greenwald ter lá suas convicções ideológicas. Ele pode tranquilamente considerar que houve uma grande orquestra para impedir Lula de disputar a eleição e toda sorte de visões favoráveis à esquerda. O que não dá é para posar de defensor do bom jornalismo e ao mesmo tempo deixar de abrir espaço para pessoas que foram expostas se posicionarem.
Não é possível tremular a capa de defensor dos bons métodos e ato contínuo se aproveitar de um vazamento criminoso de informações para melar a condenação de seu malvado favorito. Afinal, se Moro e Dallagnol pecaram quando atropelaram os meios para alcançar determinados fins, no que Greenwald se diferencia?
O maior problema em seu comportamento enquanto jornalista, contudo, está na desenvoltura com que entremeia informação e um falatório digno de palanque, ao empapar notícias com posicionamentos pessoais.
Moro errou e as trocas de mensagens com Dallagnol deixam isso evidente. Para muitos não é bem assim. Isso porque, em boa parte do tempo, fomentam a substituição do diálogo pela irracionalidade. Em casos assim, o descrédito não só é compreensível, mas merecido.
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