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Mario Vitor Rodrigues

Mario Vitor Rodrigues

Déjà vu abafa “nova facada”

Foto: Evaristo Sá / AFP (Foto: )

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Desde a última quarta-feira, a claque bolsonarista tentou de todas as maneiras coalhar as redes sociais com postagens em tom dramático sobre a internação de Bolsonaro. Contando com a atuação dos filhos do presidente e robôs para dar aquela forcinha extra, para além de imagens de gosto duvidoso, o intuito era comover a sociedade a ponto de amainar a crescente rejeição ao governo — tanto pela criminosa gestão da pandemia quanto pelos recentes escândalos envolvendo compras de vacinas. A estratégia deu resultado, pelo menos até certo ponto.

Segundo consulta encomendada pela Exame, conduzida entre os dias 12 e 15 de julho, o Instituto Ideia apurou que 51% consideram o governo péssimo ou ruim e 26% ótimo ou bom. Antes da internação do presidente, 57% reprovavam a administração federal, enquanto apenas 20% aprovavam.

A trama não teria como empanar os fatos — morticínio, corrupção, queimadas, interferência na Polícia Federal, militarização do governo, abandono da educação e prejuízos causados à imagem do Brasil por meio da barafunda no Itamaraty —, mas esse não foi o principal motivo para que ele funcionasse apenas em parte.

O problema de Jair é que suas táticas já não causam o mesmo impacto. Os dois anos e meio de uma administração catastrófica sob todos os aspectos e um ambiente que exaure ajudam a gerar antipatia, porém a sensação de déjà vu é ainda mais determinante.

Ficamos boquiabertos diante do episódio do “golden shower”, pasmos com a duração do discurso em Davos e estarrecidos com a fala na ONU. Até que nos acostumamos com a rudeza, a limitação intelectual e a incapacidade de alcançar a dimensão do cargo de presidente da República.

O mesmo se deu com os comentários de uma frieza brutal diante da peste que dilacerava famílias brasileiras. Nada mais surpreende. Nem mesmo uma situação que inspire cuidados médicos, após a exploração que houve do atentado em Juiz de Fora, há quase três anos.

Foi como se, entre o desinteresse e até uma torcida envergonhada pelo pior, a maioria dos brasileiros tivesse adotado um dos comentários mais ignóbeis pronunciados por Jair durante a pandemia: e daí?

A consternação moderada por um episódio que em tempo recorde pulou de “cirurgia de emergência” para check-up de uma condição conhecida há anos, embora ignorada pelo próprio paciente, que na véspera comia salgadinhos e tomava refrigerante, não surpreende.

Estranho seria se, contrariando as últimas pesquisas, o país fosse tomado por um súbito clima de apreensão com o estado de saúde de alguém que passou os últimos meses espezinhando o sofrimento de centenas de milhares de conterrâneos. Que influenciou diretamente no maior morticínio da história moderna do país.

Particularmente, não desejo mal a Bolsonaro. Muito pelo contrário, se a facada foi decisiva em 2018, espero que esteja inteiro ano que vem. Nem que seja para alegar que sofreu golpe, como é típico dos algozes da democracia.

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