O debate da Globo, historicamente valioso dado o sabido alcance do maior canal de televisão do País, talvez tenha tido ontem um dos piores episódios. E não por conta dos “novos tempos” tão alardeados, mas acima de tudo pelas circunstâncias: Bolsonaro, líder nas pesquisas e candidato apoiado por seguidores fiéis, não esteve presente. Preferiu, em uma clara ofensa à democracia, falar para a Record, de seus aliados evangélicos.
Se somarmos a isso o fato de que o modelo de discussão com muitos candidatos inviabiliza diálogos mais profundos, o resultado não poderia ser mesmo outro. Contudo, um candidato em oposição à polarização entre Fernando Haddad e Bolsonaro se destacou: Ciro Gomes.
É, sem dúvida, o mais claro reflexo de desespero dos eleitores alheios aos extremos o fato de Ciro Gomes, conhecido por seu destempero e pela facilidade de lançar mão de números por vezes incompatíveis com a realidade, ser visto como alternativa.
É desespero, mas, seguindo a triste lógica desta eleição, não deixa de fazer sentido. Afinal, se tantos brasileiros estão dispostos a votar em Bolsonaro apenas para impedir a vitória do PT, ou em Haddad unicamente para evitar a vitória de Bolsonaro, por que não escolher Ciro para quebrar esse pas de deux?
Ferido de morte por Lula quando este inviabilizou alianças com o PDT no Nordeste, e deixando de lado aqui por um instante todo o corolário de questões que envolvem a sua personalidade e visão de mundo, Ciro faz uma candidatura surpreendente. Poderia muito bem estar abaixo de um Geraldo Alckmin ou de uma Marina Silva, mas consegue aparecer como terceira via e o faz por méritos próprios. Por saber se comunicar com o eleitor médio. Por não deixar a peteca cair, inclusive quando de fato a deixa cair.
E foi bem no debate de ontem. Talvez incentivado pelas últimas pesquisas, posicionou-se como nenhum outro candidato como alguém disposto a ferir a dicotomia antibolsonarismo x antipetismo. E atacou Bolsonaro enquanto pôde.
Se nenhum evento excepcional acontecer, não dará em nada. Ciro poderia ter sido o nome da esquerda, e então dificilmente perderia. Não apenas é melhor candidato do que Haddad, mas, acima de tudo, não carrega o selo do PT na testa.
Contudo, de dentro da cadeia, não foi essa a decisão de Luís Inácio.
A ironia é que agora Ciro represente a esperança para quem jamais pensou em votar nele. Ao que tudo indica, uma vã esperança.
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