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A tarefa de escrever sobre o Brasil de Jair Bolsonaro não é árdua apenas pela hecatombe sanitária em que se transformou a pandemia da Covid-19, pela incompetência absoluta do governo em tudo o que faz, ou pela sequência de comportamentos inadequados do presidente à frente do país. Também é árdua por ser repetitiva.
O maior desafio de quem participa do debate público hoje, para além do amargor imposto pelo governo federal por sua omissão em temas cruciais, como a compra de vacinas ou a simples inaptidão para fazer o dever de casa nas mais variadas áreas, haja vista o recente cancelamento do Censo 2021, é não conseguir mudar de assunto. É se ver obrigado a constatar -- por mais que às vezes busquemos mudar de assunto -- o quão catastrófica é a administração federal.
Jair mente, ladra e enrola. Na prática, continua se comportando como um deputado de quinta categoria, embora ocupe a cadeira de presidente.
Mentiu desavergonhadamente durante a Cúpula do Clima, na qual afirmou que o país está na vanguarda do enfrentamento ao aquecimento global e em fortalecimento dos órgãos ambientais.
Na prática, dois dias antes da Cúpula, 400 servidores de carreira do Ibama se manifestaram apresentando um ofício em que denunciam a paralisação de todas as atividades de fiscalização de infrações ambientais. Isso sem falar na exoneração do Superintendente da Polícia Federal no Amazonas, Alexandre Saraiva, depois de ter denunciado o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, ao Supremo Tribunal Federal por organização criminosa e favorecimento de madeireiros.
Bolsonaro ladra quando acena com o uso das Forças Armadas para garantir a ordem na hipótese de as medidas restritivas adotadas por governadores e prefeitos para tentar frear a pandemia provocarem o caos.
Não foi a primeira vez que o capitão lançou mão de uma retórica golpista para excitar sua base eleitoral e tampouco terá sido a última em que, por meio de palavras, ainda que indiretamente, sabotará esforços no sentido de poupar vidas diante do flagelo.
O presidente enrola porque sabe que seu governo já acabou. Do morticínio provocado pela pandemia com a ajuda de sua postura irresponsável à disputa inglória para enquadrar o orçamento em meio à crise fiscal, dos escândalos envolvendo seus filhos na Justiça a uma taxa de desemprego que promete beirar os 20% no ano que vem, não lhe resta mais nada a não ser jogar para seus fãs, provocar a imprensa e rezar para que Lula saia mesmo candidato, apostando na dicotomia para ter esperanças de se reeleger. E só.