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Mario Vitor Rodrigues

Mario Vitor Rodrigues

Ele não, mas precisa ser o Lula?

Foto: Ricardo Stuckert (Foto: )

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Embora a pergunta seja retórica, começo tirando o espantalho da frente: não precisa. Para além das circunstâncias, contudo, uma poderosa combinação de interesses deseja impor à sociedade um personagem que há décadas protagoniza o cenário político, já presidiu o país em duas ocasiões, foi preso por corrupção e lavagem de dinheiro — as condenações foram anuladas após o ministro Edson Fachin declarar a incompetência da 13ª Vara Federal de Curitiba para julgar os casos de corrupção do ex-presidente, mas o julgamento continua.

A natureza hegemônica do PT tem papel preponderante nesse cenário. O partido disputou todos os pleitos presidenciais desde a reabertura, pediu o impeachment de todos os mandatários democraticamente eleitos e desconhece escrúpulos na sua busca pelo poder — como Marina Silva pôde experimentar em 2014.

Aos que não reconhecem tal sanha o próprio Lula encerra o debate: “O PT vai polarizar em 2022. São poucos os partidos nacionais como o PT, por isso nos vamos sempre polarizar”, afirmou durante reunião da Executiva Nacional do Partido dos Trabalhadores, em 14 de novembro de 2019, sua primeira aparição pública após ter deixado a carceragem da Polícia Federal em Curitiba. “Não pode ter medo de polarizar”, acrescentou.

Como qualquer legenda, o PT tem todo direito de disputar quantos pleitos desejar e é legítimo que lute para voltar ao poder. O problema se dá quando sua militância e simpatizantes tentam sufocar o debate sobre novas alternativas para destronar Bolsonaro.

Não é coerente com o discurso antiautoritarismo instaurar um clima de “se não está com Lula é porque apóia Bolsonaro”. É válido que o Partido dos Trabalhadores almeje retornar ao Planalto, mas também que parte da sociedade prefira avaliar outros nomes ao de Luiz Inácio.

O presidente da República é candidato natural à reeleição e Lula um político popular, mas, para além dessas evidências, fato é que estamos viciados em polarização. O que não deixa de ser compreensível: por meio da dela, a dicotomia, conseguimos simplificar o entendimento de um tema que nunca nos agradou, e do qual pouco entendemos, de quebra saciando nosso apetite pelo caos.

Mora nesse estado de coisas a razão pela qual o que se convencionou chamar de terceira via já nasceu ferida de morte. Mais até do que na falta de opções ou de carisma daqueles que eventualmente são citados como possíveis candidatos.

O panorama parece cada vez mais delineado. Novamente, Ciro Gomes surge como a possibilidade mais razoável de furar a polarização vigente, embora as chances disso acontecer sejam remotas. E está tudo certo. Se for da vontade da maioria dos brasileiros reeditar o embate do último pleito, que assim seja.

Para o bem do debate público entre os opositores ao governo, porém, a imposição de um nome não faz sentido. Não tão cedo.

Já não é possível ignorar que boa parte das pessoas alimenta o desejo de estancar esse sistema de venda casada em que só os extremos têm a ganhar. Ainda que ele não se concretize. Mesmo que, ao fim e ao cabo, tenhamos que capitular para evitar o pior.

A necessidade de derrotar Bolsonaro transcende a disputa política. A sobrevivência da própria democracia está em jogo. Nem essa missão, contudo, deveria castrar a discussão sobre o melhor nome para enfrentá-lo.

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