Como era de se imaginar, o rescaldo das manifestações ocorridas no último domingo foi pautado, em princípio, pelo número de pessoas que atraiu. Depois, pela postura que o governo adotou de buscar aproximação com os demais poderes.
Afora o fato de o apoio aos protestos pela educação ter ultrapassado com folga a defesa governista, não resta dúvida, se for para valer, o aceno da administração Jair Bolsonaro é bem-vindo. O problema é que ninguém em sã consciência acredita na pantomima ensaiada esta manhã, resguardados o suco e os pães de queijo.
Na verdade, o governo blefou durante toda a semana que passou. Inclusive ao propagandear a agenda dos movimentos em seu favor, estimulados sem maiores pudores pelo próprio presidente da República.
Seria muito bacana caso as pessoas de fato tivessem ido às ruas pedir pelas reformas econômicas. Melhor ainda se priorizassem acima de todas a reforma da Previdência. Contudo, essa roupagem chegou quando os reais incentivos, todos de origem autoritária e ameaçadores à democracia, já haviam instigado o ânimo do povo.
Foi assim, nesse ziguezague — que poderia ser elogiável do ponto de vista estratégico se fosse proposital, mas que dada a falta de coordenação cheira a puro atabalhoamento —, que o governo conseguiu se entrincheirar de vez. Uma estratégia que no fim das contas só atrapalha o seu futuro. E, quem sabe, pode até ameaçá-lo amanhã.
Como acontece desde antes de ser eleito, durante o período eleitoral, Bolsonaro tratou de emular o petismo. Copiou, nesse caso, a instauração oficial da dicotomia. A frase “o povo está nas ruas para defender a nação” é sintomática, não surgiu à toa. E por óbvio relega à parte da sociedade que não esteve nas ruas, na melhor das hipóteses, o papel de quem não defende o país.
Acontece que, ao contrário das priscas eras enquanto o PT tocou o Brasil — falo aqui de Luiz Inácio I, primordialmente —, Bolsonaro carece de cartas na manga.
Não conta, por exemplo, com um momento favorável da economia. Longe disso. Também não conta com o suporte de um partido experiente, organizado e com capilaridade nacional. Por fim, não se trata, ele próprio, o mandatário, de um líder genuinamente popular; astuto quando se trata do jogo político. Trocando em miúdos, Bolsonaro não é Lula.
O maquiavelismo petista não foi bonito de se ver e hoje mesmo já está sendo julgado pela história, mas a verdade é que houve um conjunto de situações que permitiram a sua implementação e acima de tudo o seu sucesso.
Insisto, o atual presidente não pode se dar esse luxo.
Dia 30 vem aí e tudo indica que teremos uma manifestação ainda maior do que a anterior, no dia 15. Todavia, isso é o de menos. A não ser que aconteça algo de muito especial, essa espécie de campeonato para ver quem enche mais as ruas uma hora termina.
O problema é que, ao escolher um lado, não apenas na retórica, mas dando a ele tamanho, cores e rostos, o governo fez o mesmo com os seus adversários.
Tão cedo. E sem cacife para tal.
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