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Não fui daqueles que alardeou o perigo de o Brasil se transformar em uma Venezuela sob o jugo do PT. Para ser sincero, sempre achei um tanto histérico o espanto com o Foro de São Paulo e a narrativa do bolivarianismo bicho-papão.

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Que o Partido dos Trabalhadores aparelhou o Estado não se discute, mas a tese de que o país ganharia contornos irreversivelmente comunistas me pareceu, acima de tudo, exagerada. Um alarmismo impulsionado, em parte, pela justificada rejeição ao PT, mas também direcionado a atender interesses eleitorais.

Pois tenho a impressão de que agora se dá a mesma coisa, só que no sentido inverso. Bolsonaro, segundo muitos, representa uma ameaça flagrante à democracia. Há quem aposte no recrudescimento de preconceitos contra as minorias e demonstre preocupação pelo ressurgimento dos militares no poder.

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Novamente, não se trata de uma reação sem qualquer fundamento. Bolsonaro e seus seguidores tentam diminuir o corolário de declarações ofensivas ao bom senso sob o pretexto de que são antigas, mas isso não é verdade.

Não faz muito tempo que o candidato do PSL anunciou para os seus fãs a visão de um país cristão e com leis talhadas para proteger a maioria, salientando que as minorias teriam de se adequar ou desapareceriam. Idem para a alusão a um torturador ou as declarações do general Mourão sobre autogolpe e uma nova Constituição promulgada sem a participação dos representantes eleitos pelo povo.

Contudo, não vejo espaço para a adoção de medidas autoritárias a ponto de ferirem de morte o senso comum da sociedade. Não acredito, após a vitória consumada, e ao passo que a realidade dos problemas a serem enfrentados tome corpo, na capacidade de impor diretrizes comuns aos regimes de força.

Bem ao contrário, passada a lua de mel que se seguirá ao inequívoco sucesso nas urnas, imagino uma administração fadada a frustrar seus eleitores mais ferrenhos, uma vez que será obrigada a trilhar caminhos que prometeu não perseguir, ao mesmo tempo que terá de lidar com uma oposição habituada a fazer o seu papel.

Não dou o benefício da dúvida para a turma que vem aí em relação a valores democráticos. Não poderia fazê-lo, após tudo o que já foi dito. Entretanto, há uma diferença considerável entre a sempre necessária fiscalização de um governo, a cobrança de que seus posicionamentos representem dignamente a sociedade, e a construção de espantalhos que apenas servem para banalizar dramas impensáveis por aqui, como a ditadura e o nazismo.

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Ao impor sarrafos apelativos, acabamos por sugerir a nós mesmos a sensação de que no fim das contas nada terá sido suficientemente ruim.

O que, sabemos bem, não é exatamente verdadeiro.