“Meu filho, Antônio, ingressou por concurso no BB há 19 anos. Com excelentes serviços, conduta irrepreensível e por absoluta confiança pessoal do Presidente do Banco foi escolhido por ele para sua assessoria. Em governos anteriores, honestidade e competência não eram valorizados”.
O comentário acima, do vice-presidente da República, Hamilton Mourão, não fica de pé para quem tem um fiapo de coerência e acompanhou de perto a última eleição. A começar pelo “meu filho”.
Até mesmo Carlos Bolsonaro, que em plena posse fez questão de escancarar o desapreço dessa gestão por ritos e decoros ao se empoleirar no Rolls-Royce presidencial, bem como seus irmãos, jamais chama o presidente de “pai”.
Pode parecer mero detalhe, mas não é.
E não é porque Jair Bolsonaro, auxiliado pela sua torcida organizada, fez questão de empapar a disputa eleitoral com um discurso messiânico, purista até a medula, sentando a borduna no sistema e outorgando-se o status de salvador moral do país. “Se não for para fazer diferente, nem vale a pena ganhar”, chegou a dizer.
Pois, e aí? Onde está a diferença?
De fato, o governo apenas começou. Não tem sequer um mês de existência. Melhor dizendo, nem mesmo duas semanas de vida. Contudo, se ainda não é possível cobrar mudanças significativas de ordem administrativa, já podemos afirmar, justamente por ter se passado tão pouco tempo desde a sua inauguração, que os exemplos de comportamento até aqui não inspiram otimismo.
O malcheiroso episódio envolvendo o senador eleito Flávio Bolsonaro, via seu ex-assessor, Fabrício Queiroz, só não causa espécie em quem está no governo, almeja cargo na administração ou se vê irremediavelmente mesmerizado pelo culto ao bolsonarismo.
Idem para a grotesca agenda defendida pelo chanceler Ernesto Araújo, que fere de morte a tradição diplomática brasileira e a própria imagem do país por meio de falas amalucadas e atos como a saída do Pacto Global para a Migração.
Ou até a chamada “despetização” citada pelo ministro-chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni. Antes de mais nada, porque há tempos a Casa Civil não estava tomada por petistas, mas também principalmente pelo fato de que o critério do governo, tanto para exonerar quanto para contratar servidores, deveria ser técnico. Não político. Diga-se, outro foi argumento fartamente vendido durante a campanha por Jair Bolsonaro.
O saldo na carreira de Antônio Mourão — reajuste salarial de 200% — após o pai ter se tornado vice-presidente é vergonhoso. Não tem apenas toda pinta de um comportamento viciado em nossa estrutura pública e entranhado na nossa sociedade, de fato o é.
O governo apenas começou.
E, tão cedo, já decepciona.
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