No dia em que Jair Bolsonaro usou 6 dos 45 minutos a que tinha direito para discursar na abertura do Fórum Econômico Mundial, em Davos, na Suíça, a notícia não poderia mesmo ter sido a resposta positiva de importantes investidores à fala do presidente. Bem ao contrário, a reação foi de decepção. Verdade que Bolsonaro jamais se vangloriou do próprio conhecimento sobre a economia e sua falta de traquejo para se comunicar é notória quando a plateia não é composta por convertidos, mas poderia ter ido mais bem preparado. Contudo, assim como tem acontecido durante as últimas semanas, novamente seu filho primogênito roubou a cena.
Como se não bastassem todos os indícios envolvendo-o com o enrolado Fabrício Queiroz, a para lá de mal contada teoria dos envelopes com dinheiro para justificar os depósitos, a relutância em prestar esclarecimentos ao Ministério Público e o pedido junto ao STF para que as investigações fossem suspensas em função de uma prerrogativa de foro privilegiado que não se sabe ao certo se tem direito, agora Flávio Bolsonaro se vê sob a suspeita de envolvimento com a milícia.
Trata-se de uma história que não cheira nada bem. Melhor dizendo, se já não cheirava bem antes, o mau odor agora é indisfarçável.
Assim, o governo, e portanto o país, tem um problema. Não que o presidente corra risco de, por exemplo, perder o poder por conta das chamadas “rachadinhas” na ALERJ. Ainda que esse novelo seja desfiado até cair no colo de Jair Bolsonaro, são fatos anteriores ao mandato de presidente.
A questão diz respeito à ferida na imagem do bolsonarismo que toda essa situação começa a provocar. De resto, a simples hipótese de que a família politicamente mais poderosa do país esteja ligada com milicianos é de uma gravidade ímpar na própria história da República.
Acrescente-se a esse molho o fato de que as imagens dos filhos e do presidente não são dissociáveis. Pelo contrário, Bolsonaro sempre faz questão de ter os rebentos por perto, ainda que Flávio seja claramente o patinho feio nesse quesito.
Conversando com pessoas fiéis à retórica da nova gestão, ouvi por mais de uma vez a tese de que, à feição do petismo, internamente os bolsonaristas até podem reconhecer suas mazelas, porém jamais cometerão o equívoco de admiti-las publicamente.
E pode ser esse, logo no começo, o grande erro do governo.
Insisto, conjecturar a essa altura sobre perda de mandato seria um devaneio. Mais torcida contra do que análise séria, não apenas por uma questão regimental como pelo fato de o governo contar hoje com alta popularidade.
Contudo, a economia precisa decolar. Se, sob a batuta de Paulo Guedes, a economia começar a funcionar, ninguém terá interesse ou mesmo forças para sacudir o jabuti que conseguiu subir na árvore. Se as coisas não caminharem como se espera, entretanto, todas essas situações passarão a ganhar um peso ainda maior.
Flávio precisa cair, se o governo quiser ter alguma tranquilidade em vez de continuar nutrindo uma dor de cabeça cujo desfecho pode se tornar imprevisível.
De quebra, reforçaria o discurso de campanha, repetido tantas vezes, de que ninguém deixaria de pagar por seus atos, caso fosse necessário.
Resta saber se o capitão honrará a palavra dada.
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