Levando-se em conta o primeiro debate, pelo menos em um aspecto o encontro promovido ontem pela CNN, entre candidatos à nomeação pelo Partido Democrata para disputar as eleições presidenciais em 2020, não surpreendeu: Joe Biden foi o alvo preferido dos ataques mais duros.
Nada de inusitado até aí, uma vez que o ex-vice-presidente é o líder disparado nas pesquisas. Estranho seria se a senadora Kamala Harris não tentasse repetir a fórmula que deu certo há cerca de um mês, quando encurralou Biden, impulsionando assim a própria candidatura. E Harris é apenas o exemplo mais óbvio. Disputas políticas devem mesmo ser combatidas com toda firmeza possível, dentro de um limite de lealdade e, se possível, de elegância.
Pois ambas, lealdade e elegância, passaram longe do palco montado em Detroit.
Houve quem ignorasse a pergunta dos moderadores para se dirigir diretamente a Biden, como foi o caso do prefeito de Nova York, Bill de Blasio. Houve até quem buscasse declarações polêmicas feitas na década de 80, como a senadora Kirsten Gillibrand.
Contudo, nada causou mais rebuliço nas hostes democratas do que os seguidos ataques ao legado deixado pelo último presidente emplacado pelo partido, e um dos mais populares na história do país, Barack Obama. Durante as mesas-redondas que se sucederam ao debate, houve inclusive quem apontasse para o inusitado: Donald Trump, que há anos critica a administração Obama, não poderia imaginar que teria democratas postulantes ao Salão Oval como aliados.
As recentes pesquisas indicam que o eleitor americano democrata vê em Joe Biden a maior chance de voltar ao poder. E ontem, após um desempenho pífio no primeiro encontro, ele não decepcionou. Soube responder aos ataques chegando ao ponto de comprar embates desnecessários.
Ainda assim, fica claro que, para além da compreensível fixação em vencer Trump, a agenda democrata passa por um momento delicado. Enquanto parte dos candidatos aposta em um tom mais moderado, e critica retóricas radicais, outros, como os senadores Bernie Sanders, Elizabeth Warren e Kamala Harris não hesitam em defender pautas tóxicas do ponto de vista eleitoral (por exemplo, afrouxar as políticas de segurança na fronteira e um sistema de saúde universal).
Até o dia 3 de novembro de 2020, quando se dará a próxima eleição, ainda falta muito tempo. O atual cenário, contudo, deveria animar Donald Trump. Não bastasse o momento positivo da economia, tradicionalmente um fator decisivo, seus potenciais adversários nem sequer parecem seguros de qual caminho seguir.