Em meio ao momento de catarse que permeou as eleições de 2018, o principal pilar de sustentação da candidatura do então deputado Jair Bolsonaro à presidência da República foi o combate à corrupção. Vendeu-se a tese de que ela era o nosso maior problema e seu enfrentamento seria fundamental para moralizar o país. Pois o escândalo da Covaxin deixa a Elba de Collor, as pedaladas de Dilma e o sítio de Lula no chinelo. Soterra um projeto de macartismo tropical que nunca teve chance de dar certo.
O relato do deputado Luis Miranda (DEM-DF), contando que a portas fechadas Bolsonaro teria afirmado que a tramoia envolvendo a compra da vacina indiana era coisa de Ricardo Barros (PP-PR), líder do governo na Câmara, tornou a situação do presidente delicada: caso a denúncia se confirme, na melhor das hipóteses ele prevaricou.
Barros era o ministro da Saúde em 2018, quando a Precisa Medicamentos, que agora intermediava o acerto com o laboratório Bharat Biotech, deu um calote de R$ 20 milhões à pasta — recebeu a dinheirama, porém não entregou as encomendas contratadas. Ganha uma lambreta para acelerar na próxima motociata quem adivinhar o autor da emenda que viabilizou a importação da Covaxin e chegou a coagir a Anvisa para que a vacina fosse logo liberada.
Jamais fez sentido acreditar que Bolsonaro pudesse ser exemplo para algo que fugisse da rudeza e da indiferença pelo próximo — a menos que o próximo fosse um de seus rebentos.
E como poderia, se mesmo estando há 30 anos na política só se destacou pela postura corporativista e pronunciamentos boçais? Como, se passou por quase uma dezena de legendas e lançou os filhos na esteira de seu nome? De que forma, se nunca abriu mão de regalias que o Estado pudesse oferecer?
O cenário estava dado, e qualquer um que não estivesse enfronhado na seita que idolatra o mito tinha essa clareza, contudo faltava um caso inequívoco de corrupção. Algo que envolvesse diretamente o Palácio do Planalto, noves fora rachadinhas, os R$ 89 mil na conta da primeira-dama, as investigações para cima do agora ex-ministro Ricardo Salles e a mansão do senador Flávio Bolsonaro.
Não falta mais.
Em março de 2015, o procurador da República Deltan Dallagnol, então coordenador da Operação Lava-Jato, deu a seguinte declaração: “Quando a gente fala que a corrupção é um crime hediondo, é que ela rouba a comida, o remédio e a escola do brasileiro”. Em seguida, completou: “O nosso parâmetro para lidar com a corrupção deve ser o crime de homicídio, quem rouba milhões, mata milhões”.
No caso de Bolsonaro — um presidente que sistematicamente vem estrangulando todos os mecanismos de combate à corrupção —, trata-se de algo ainda mais grave do que supor que o dinheiro desviado poderia, quem sabe, ter sido aplicado em causas fundamentais: seu governo, seguindo à risca sua sanha anticiência e o desdém pelas vacinas, não só demorou a comprar imunizantes como ainda se esmerou em lançar mão de tráfico de influência para costurar negociatas enquanto milhares de brasileiros morrem por dia.
A boa notícia é que para Jair Bolsonaro acabou. Se vai ser por meio de um impeachment ou com a derrota nas urnas, ainda é cedo para afirmar, mas acabou.
A ruim, foi termos nos submetido a tamanha tragédia.
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