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Foto: Marcos Correa
Foto: Marcos Correa| Foto: Marcos Correa

Jair Bolsonaro assumiu a presidência da República há dois anos e oito meses, mas a impressão é que se passou muito mais tempo, tantos foram os episódios de distensão institucional e retrocesso civilizatório.

A sensação de exaustão que assola o país se deve ao desequilíbrio emocional e a falta de compostura do presidente. Desde o período eleitoral que antecipou o pleito de 2018, Bolsonaro fez de tudo para alimentar o clima beligerante e romper canais de diálogo fundamentais para o ambiente democrático. Eleito, vem mantendo a corda esticada de modo a repetir a fórmula em 2022 — lembrando que uma de suas promessas de campanha era acabar com o da reeleição.

A grande ironia é que a inépcia do governo joga a favor da sociedade. Afinal, para pôr em prática seus delírios autoritários, Bolsonaro precisaria minimamente entregar um nível de gestão que, na prática, não chega perto das expectativas mais modestas. Pelo contrário, até aqui ele consegue o feito de decepcionar apoiadores, ao solapar as bandeiras do combate à corrupção e a agenda liberal na economia e ao surpreender negativamente seus críticos, que nem em seus piores pesadelos esperavam uma administração tão calamitosa.

Não há de ser por outro motivo que o presidente começa a dar sinais de desespero. Uma aflição que deve aumentar a partir da tardia, mas bem-vinda, reação do Judiciário a uma escalada autoritária que inegavelmente ameaça a nossa democracia.

Foram felizes as palavras do presidente do STF, ministro Luiz Fux, em resposta a mais uma saraivada de ataques do principal representante do poder Executivo ao sistema eleitoral, bem como a suspensão da reunião com os chefes dos três Poderes, idealizada com a intenção de aplacar os crescentes ruídos.

Igualmente importantes foram as posturas de outros dois ministros da Suprema Corte: Luís Roberto Barroso, que atualmente preside o Tribunal Superior Eleitoral e Alexandre de Moraes. O primeiro abriu um procedimento para investigar as recentes declarações de Bolsonaro questionando a lisura das urnas eletrônicas, o segundo atendeu um pedido do próprio TSE e incluiu o mandatário no inquérito das fake news.

Convém não esperar qualquer recuo da parte do presidente. Bem ao contrário, Jair prefere operar no caos. E não apenas por ser sua zona de conforto, onde se sente mais confortável para expor seu primitivismo, mas por uma questão de estratégia política. Seja para tentar algum tipo de reviravolta no ano que vem, seja para plantar o discurso de que foi apeado do poder ilegitimamente, como é comum aos autoritários.

Se houve um momento em que se acreditou nas mudanças de tom do presidente, já passou. Acumulam-se os casos em que ele acenou para a sociedade e os demais poderes da República em sinal de armistício para logo em seguida dar vazão a uma sanha golpista e a ao seu temperamento indomável.

Deputado, Bolsonaro jamais foi relevante. Presidente, é uma mistura de Maria Antonieta com Hugo Chávez. Um golpista a serviço de picaretas de farda, jaleco e paletó. Ninguém tão picareta quanto ele. Nem tão desesperado.

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