Foto: Isac Nóbrega/PR| Foto:

Dez meses. Os dez primeiros de um mandato com quatro anos de duração. Os dez primeiros mais desastrados — com folga — de todas as administrações desde o início da Nova República. Recapitular aqui os tiros no pé dados até hoje pelo governo não é apenas uma tarefa digna de Sísifo, é impossível.

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A disputa interna no PSL, oitava legenda de um político que atingiu o ápice da carreira vendendo-se como antissistema, escancara algo que somente os crédulos ou aqueles em absoluto estado de negação teimam em disfarçar: o Brasil está entregue nas mãos de despreparados. Amadores que tiveram habilidade e senso de oportunismo para descer uma onda eleitoral no momento certo, porém incapazes, até mesmo, de construir um ambiente de unidade entre si.

O presidente Jair Bolsonaro sai menor dessa barafunda, encimada por um áudio em que é chamado de “vagabundo” pelo líder do partido na Câmara, Delegado Waldir (PSL-GO). E sai menor porque sua natureza, pouco importa o cargo que ocupe, sempre será a de baixo clero. Seu comportamento, os impropérios, as gafes, o desdém pelos protocolos e a preferência por “barracos”, funciona como um recado inequívoco àqueles que deveriam enxergá-lo como referência: não é preciso temer e tampouco respeitar, eu sou igualzinho a todos vocês.

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O governo está desgovernado, entretanto ainda há tempo. Há tempo para aceitar a realidade como ela se impõe e negar-se a flertar com o descalabro. Há tempo para encarar o atual cenário como ele de fato é, não como gostaríamos que fosse, e pelo menos aprender com os nossos erros. Há tempo, enfim, para recusar-se a empanar as coisas como elas são. Assumir que chafurdar no revanchismo político e no Fla-Flu ideológico está longe de ser apenas receita de fracasso, mas escreve o roteiro que nos conduzirá a um retrocesso penoso, do qual as próximas gerações levarão um bocado de tempo para se livrar.

Em meio a tanto caos, a boa nova é que, pelo visto, Eduardo Bolsonaro teve a sua chancela para o cargo de embaixador comprometida. É pouco. Também surgiu a confissão de seu irmão, Carlos, de que usa e abusa da conta oficial do presidente no Twitter. É nada. Ou a prova de que Jair é capaz de tramar pelas costas para fritar tanto desafetos quanto ex-aliados. É menos ainda.

A promiscuidade entre o presidente e seus filhos atropelando instituições, a inoperância política de um governo refém do Congresso, o apodrecimento de um ministro da Justiça outrora tido como ícone, a tagarelice de um ministro da Economia que pouco resolve, a bizarrice de um ministro da Educação avesso ao diálogo e à boa escrita, além de um ministro do Meio Ambiente e um chanceler decididos a manchar a imagem do país no exterior… tudo isso cansa, desgasta e desanima.

Esperança? Só se for de que passe logo.

E que, então, abandonemos esse negócio de votar com o fígado.

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