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Em sua conta no Twitter, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso declarou que o senador Tasso Jereissati tem razão ao afirmar que “ou há um basta aos desatinos de Bolsonaro ou dará Lula nas eleições”. Em seguida, o próprio FHC completou: “basta comparar e ver o vazio de lideranças. Estamos entre o trágico e o que já se viu. Sem horizontes animadores”.
FHC e Tasso estão certos. Não sei se alguém será capaz de dar um basta nos desatinos de Jair Bolsonaro, mas eles certamente favorecem a volta de Lula. O ex-presidente tucano acerta também ao constatar que estamos entre a tragédia — o que seria a continuidade da atual administração — e a volta de quem já ocupou o poder por 13 anos.
Quanto a um vazio de lideranças capazes de propor alternativas à polarização, porém, há controvérsias. Não que abundem craques propriamente ditos, contudo pinçar um punhado de bons jogadores não é assim tão difícil.
A questão é que Ciro Gomes, Luiz Henrique Mandetta, João Doria e Luciano Huck, para ficar nos principais pré-candidatos, precisam dialogar. Todos teriam condições de vencer Bolsonaro no segundo turno. O problema é que, sozinhos, dificilmente passarão pelo PT no primeiro.
Talvez não exista termo mais desgastado em política do que diálogo. Nestes tempos bicudos em que vivemos, corre-se o risco de ser tachado de ingênuo ao mencioná-lo. Ainda assim, para aqueles que quiserem interromper o pêndulo de extremos em que a nossa política se transformou, dialogar será fundamental.
O cenário é difícil. E não só pelo fato de cada um dos nomes que mencionei ter o legítimo desejo de ser cabeça de chapa, mas porque os próprios opositores ao bolsopetismo estão divididos.
Ciro pode até se recusar a abrir caminho para Doria; Luciano e Mandetta podem fazer questão de lançar seus nomes. Ainda que esses nós fossem desfeitos, restaria a recusa, tanto do eleitor à direita quanto daquele à esquerda, de fazer voto útil logo de cara.
De todo modo, se realmente houver o desejo de fazer de Jair Bolsonaro o primeiro presidente a perder uma reeleição desde 1989, sem que para isso tenhamos que conduzir o petismo de volta ao poder, não restará outra saída que entrar em acordo. Tanto na esfera política quanto nas conversas com amigos e familiares.
Se assim não for, ou seja, se a lição imposta pela dinâmica do pleito em 2018 e tudo o que está acontecendo desde então não forem suficientes — somado à certeza de que voltar ao que éramos antes de Bolsonaro não seria benéfico para o país —, será porque, no fim das contas, o repúdio a Bolsonaro e ao PT não é tão grande assim.
O retorno de Lula à disputa eleitoral impõe uma necessidade ainda maior de entendimento entre as forças opositoras à dicotomia entre Bolsonaro e o Partido dos Trabalhadores.
Vejamos até que ponto seremos capazes de abrir mão de nossas convicções em nome de um retorno à normalidade. Ainda que para isso não possamos eleger o candidato dos sonhos, teremos ao menos um governo de transição.