Foto: Isac Nobrega/PR| Foto: Isac Nobrega
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“Tem um idiota: ‘Ah, tem que comprar é feijão’. Cara, se não quer comprar fuzil não enche o saco de quem quer comprar”, regurgitou Jair Bolsonaro na última sexta-feira (27) diante do habitual séquito de fanáticos imbecilizados que diariamente o adulam no Palácio do Alvorada — como bem cunhou William Waack a respeito dos seguidores irracionais do presidente, em sua última coluna no Estadão.

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Deixando de lado a natureza limítrofe, não é difícil entender as razões para um comentário tão cretino: necessidade de criar cortina de fumaça e um desprezo pelos preços dos alimentos típico de quem abusa do cartão corporativo.

Dados recentes do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) atestam o que chefes de família que não podem comprar mansões de R$ 6 milhões financiadas por bancos comandados por aliados do papai já sentem no bolso: inflação subiu 0,96% em julho, batendo os 8,99% no acumulado dos últimos 12 meses, maior patamar desde maio de 2016. Falando especificamente sobre alimentos em domicílio, de junho para julho foi mais do que o dobro: de 0,33% para 0,78%.

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Fico me perguntando, reconheço, se as bestas-feras que promovem o ódio nas redes sociais e passam o dia atacando e caluniando quem simplesmente aponta os despautérios do presidente não se comovem, nem por um instante que seja, com tantas e tão seguidas demonstrações de desamor da parte de quem foi eleito para comandar o país.

Colocar-se no lugar do outro nunca é fácil, entretanto ignorar o próprio sofrimento extrapola os limites das seitas mais fanáticas. Faz pensar, em tempos repletos de noticiários sobre os fundamentalistas do Talibã, se já não estamos diante de fãs tão amalucados a ponto de idolatrarem um líder faz que exatamente tudo aquilo que durante a campanha prometeu combater.

No fim das contas, a fala de Bolsonaro diante de um quadro inflacionário e de desemprego que só se agrava foi perversa, contudo não surpreende vinda de quem passou os últimos meses debochando das mortes de mais de meio milhão de brasileiros, que poderiam ter sido evitadas não fosse a incompetência e a corrupção de seu governo.

Temos um perfeito idiota na presidência da República. Não é o primeiro e dificilmente será o último, mas nenhum extrapolou os limites da sensatez e da falta de empatia como Jair Bolsonaro. Ninguém atentou contra a democracia, avacalhou com o civismo e símbolos pátrios tanto quanto este autêntico espécime do que existe de pior na nossa política.

A boa notícia é que, de acordo com as últimas pesquisas, essa aventura nefasta chamada bolsonarismo está com os seus dias de glória por terminar. A ruim é que, quando olharmos para trás, será impossível dizer que valeu a pena. Que, ao fim e ao cabo, o trauma deste período tão sombrio terá servido de lição.

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Infelizmente, e, sim, desde já está claro, não teremos copo meio vazio para contemplar. O custo, civilizatório, institucional e sobretudo humanitário terá sido alto demais. Não injusto, porém.