Foto: Evaristo Sa/AFP| Foto: AFP
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Jair Bolsonaro deveria cair. E não só por sua absoluta incompetência para conduzir o Brasil, embora esse argumento sozinho justifique pedir sua saída. Jair Bolsonaro deveria cair porque seu governo é responsável direto pela maior tragédia sanitária em toda nossa história. Porque, sob sua responsabilidade, brasileiros estão morrendo feito passarinhos.

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Impeachment seria ótimo, contudo seria pouco. Jair deve responder na Justiça por seus atos desde o início do flagelo, sob pena de as próximas gerações despontarem prenhes dos hábitos que melhor caracterizam o bolsonarismo: ode ao ódio, falta de empatia e culto à irracionalidade.

Para além do dever moral, há também um compromisso constitucional. Que o Congresso continue ignorando os vários crimes de responsabilidade cometidos por Bolsonaro é grave; que Ministério Público e Judiciário façam vista grossa para evidências de crimes comuns seria absurdo.

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Apenas no mundo de faz de conta amplamente propagandeado por Bolsonaro ele não alimentou o negacionismo, não incentivou comportamentos capazes de colocar vidas em risco e não esteve diretamente envolvido em situações de alta probabilidade de contágio. Levar a sério esse trololó imporia feridas de difícil cicatrização.

A primeira delas seria sacramentar a completa desmoralização das nossas instituições. A recente troca no comando da Saúde — terceira desde o surgimento da Covid-19 — escancarou ainda mais a necessidade de frear e punir Bolsonaro: em meio a uma hecatombe humanitária como não se via há mais de cem anos, o presidente teceu loas a um ministro que deixou a pasta com um saldo de 260.000 mortos, general Eduardo Pazuello, para anunciar outro que já chegou falando em dar continuidade a esse mesmo trabalho, Marcelo Queiroga.

O mito pode ser incapaz de se preocupar com o próximo, mas amor-próprio não lhe falta. Sabe que espinafrar o desempenho de Pazuello seria cometer suicídio político, algo que comprometeria sua tão almejada reeleição. O campo da narrativa, entretanto, não deve pautar a conduta de juízes e procuradores. Ou, tratando-se de Brasil, pelo menos não deveria.

As instituições correm risco de desmoralização se não forem atrás de Bolsonaro. A sociedade, por sua vez, infligirá a si mesma uma chaga ainda pior caso opte por minimizar sua postura negacionista: divorciar-se do humanismo.

Ao se lançar candidato à presidência, a principal bandeira de Bolsonaro foi o combate à corrupção, mas a debacle moral imposta por seu comportamento frio e abjeto faz sentir saudade de todos os governos que antecederam ao seu. Sem exceções.

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Mesmo que não seja apeado do poder como foram Fernando Collor e Dilma Rousseff, e tudo indica que não será, ou que se torne o primeiro presidente a não conseguir se reeleger desde 1989, chances essas cada vez maiores, é fundamental que Bolsonaro seja responsabilizado por sua gestão criminosa.

Tanta dor e sofrimento poderiam ter sido evitados. Que pelo menos não tenham sido em vão.