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Mario Vitor Rodrigues

Mario Vitor Rodrigues

Isentão, sim, e como não?

Imagem: internet (Foto: )

Dos vários elogios direcionados a mim e à parte da mídia interessada em fazer o seu trabalho sem descambar para os extremos há um particularmente curioso: isentão.

Trata-se de uma alcunha intrigante. Acima de tudo — e assim fica claro pelo tom adotado em falas e mensagens —, porque pretende ofender. Sua lógica se baseia na premissa de que, ao não assumir um lado no debate político, o sujeito é ainda mais desprezível que aqueles que se posicionam na arquibancada rival.

Trocando em miúdos, a ponderação não só é indesejada e até inútil, mas detestável.  Afinal, há um luta acontecendo e a ninguém deveria ser dado o direito de se ausentar. Como é possível, argumenta uma banda do pátio, esquivar-se do enfrentamento quando o PT e a esquerda já cansaram de comprovar do que são capazes? Como é possível se fingir de morto, questionam seus detratores, quando o que está em jogo transcende o debate político, interfere na nossa própria condição democrática e flerta com um retrocesso civilizatório de proporções imprevisíveis?

O caráter autoritário é óbvio. Ninguém deve ser obrigado, nem mesmo constrangido a se associar a este ou àquele espectro ideológico. Muito menos se trabalhar na imprensa. Tampouco para apoiar grupos claramente interessados, cada um a seu modo, em impulsionar o seu próprio projeto de poder. Contudo, não são os detratores que me incomodam. Eles estão cumprindo seus papéis de acordo com o interesse fundamental para seus planos políticos: arregimentar o maior número possível de apoiadores, de preferência aqueles dispostos a obedecer cegamente O que me aflige é a força da narrativa.

É duro reconhecer, mas em um ambiente como o nosso, calcado em máximas como a de que, assim como religião e futebol, política não se discute, e no qual conceitos como direito e dever são manipulados durante períodos eleitorais, isentão não deixa de ter um baita apelo.

Sempre será possível trazer o debate para o lado racional. Dizer que, como a história nos mostra, o nós x eles só trouxe prejuízo. Foi por meio dessa dicotomia que nos habituamos a apostar em salvadores da pátria. Foi na base da repetição desse discurso que um processo tão traumático como o do impeachment se banalizou. Foi assim que aprendemos a deixar de ouvir o próximo e só dar atenção ao que os mais interessados em receber os nossos votos tinham a dizer.

Racionalidade não é o nosso forte. Quem o diz é o atual momento, a relutância de muitos em compreender que nada mudou com a ascensão do atual governo. E, claro, a insistência de outros tantos em oferecer, como alternativa, a volta ao poder de quem já teve a sua chance e a desperdiçou ao trair a confiança da sociedade.

O caminho para a normalização das conversas não promete ser fácil nem curto. Até lá, a pecha de isento não apenas traz uma sensação de alívio, mas soa como um elogio e tanto.

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