Foto: Marcos Oliveira/Agência Senado| Foto:

Constatar o sucesso dos extremos revelado pelas últimas pesquisas eleitorais, e portanto o nosso fracasso como sociedade, não deixa de ser intrigante. Afinal, quando foi que decidimos nos render de vez ao desespero? A partir de qual momento resolvemos dizer amém para uma catarse autodestrutiva, capaz de alimentar sentimentos incompatíveis com a democracia e de exaltar pessoas absolutamente desprovidas de condições morais e intelectuais para dirigir o País?

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Não há dúvida, o papel da esquerda e em especial do PT nesse processo foi primordial. Por meio da fabricação de narrativas a serem repetidas ad nauseam, versões da realidade que jamais contemplaram autocríticas, a fragmentação da sociedade em partes irreconciliáveis foi estimulada. Um plano engendrado com grandes doses de perversidade e cujo sucesso se mostrou absoluto.

E a maior comprovação disso nem precisa mais recair sobre as seguidas vitórias em eleições presidenciais ou mesmo nessa recente e bem costurada estratégia de amalgamar a imagem de Lula à de Fernando Haddad. Não, a maior comprovação de que o projeto de poder petista foi desenhado com destreza reside na existência de páginas na internet criadas para transmitir versões viciadas da realidade. Ou na de movimentos que se dizem livres, mas cuja natureza passa longe do liberalismo propriamente dito. Se encerra, afinal, na própria candidatura de Jair Bolsonaro e na virulência de sua militância.

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Em outras palavras, a comprovação da vitória petista está no fato de que a sociedade optou por moldar-se à sua feição. De que, ao invés de combater o seu modus operandi, grande parte de seus críticos decidiu endossá-lo.

Particularmente, não sou um grande fã de Janaína Paschoal. Percebo nela certo deslumbramento com a própria imagem que não me deixa confortável, uma dicção quase religiosa e em grande medida cafona quando se refere ao processo de impeachment em que assumiu um papel inegavelmente fundamental. Contudo, durante o lançamento da convenção nacional do PSL, quando cogitaram seu nome para compor chapa com Bolsonaro, ela foi certeira e não titubeou: “Reflitam se nós não estamos correndo o risco de fazer um PT ao contrário”.

Durante anos o destino do Brasil se viu pautado pela dicotomia PT x PSDB. Pois agora, pelo visto, as coisas estão um pouco piores. Surge a hipótese de um falso embate, no qual o autoritarismo e a agressividade na busca pelo poder dão o tom em ambos os lados da calçada.