
Motivados pelo bloqueio de contas de apoiadores do presidente Jair Bolsonaro no Twitter e no Facebook, determinado pelo ministro do STF, Alexandre de Moraes, democratas em todo o país acusam a Corte de impor grave risco ao Estado de Direito.
A causa é possivelmente a mais nobre de todas, mas desta feita não me seduz.
Juízes não são infalíveis. Longe disso. Podem forçar a barra e devem ser cobrados pela sociedade quando isso ocorre. Entretanto não é razoável confundir liberdade de expressão com salvo-conduto para o cometimento de crimes. Dificilmente as ideias iluministas de Voltaire contemplaram robôs em redes sociais, ameaças à vida, injúrias, campanhas pedindo o fechamento do Congresso ou a volta do AI-5.
Em meio à discussão sobre os limites da liberdade de expressão e os abusos do Supremo, uma coisa é certa: o presidente já está no lucro.
Jair Bolsonaro joga com a vantagem do empate. A volta à ativa do blogueiro Allan dos Santos, da militante extremista Sara Giromini e do ex-deputado Roberto Jefferson, entre outros, seria bem-vinda, todavia o simples estabelecimento do debate representa uma vitória. A martirização de sua militância ser abraçada até por suas vítimas é um bônus inesperado.
Perseguem, intimidam e buscam destruir reputações. Ameaçam a vida e os direitos de quem se opõe a seu projeto de poder. Minimizam mortes, difundem discursos anticientíficos e propagandeiam drogas ineficazes em meio a uma pandemia. Apoiam pautas obscurantistas e envenenam o diálogo. Para a turma que hoje posa de perseguida, é disso que se trata.
A vitória máxima do extremismo se dará quando seus opositores passarem a adotar sua régua moral como referência. No dia em que for impossível lembrar quais eram os parâmetros de conduta aceitáveis antes de seu advento, o retrocesso civilizatório engendrado pelo bolsolavismo atingirá seu ápice.
Só que até a moralidade superior precisa de limites.
Com tantas evidências de um comportamento fascista adotado durante as últimas eleições e instigado pelo governo federal desde o 1° dia de mandato, extrapola o despropósito haver preocupação em afagar quem torce o braço da democracia e afronta o humanismo.
Bolsonaro e seus apóstolos não precisam convencer o STF e a opinião pública de seus pendores democráticos. A dúvida já lhes sorri. Ela e os opositores que, na falta de uma frente ampla que atue contra, ensaiam uma a favor.
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