— “Lamentavelmente, no Brasil o voto não é ideológico. As pessoas não votam partidariamente. E, lamentavelmente, você tem uma parte da sociedade que, pelo alto grau de empobrecimento, é conduzida a pensar pelo estômago e não pela cabeça. É por isso que se distribui tanta cesta básica e tíquete de leite… porque isso, na verdade, é uma peça de troca em época de eleição. Assim, você despolitiza o processo eleitoral e trata o povo mais pobre da mesma forma que Cabral tratou os índios quando chegou no Brasil, tentando distribuir bijuterias e espelhos para ganhar os índios […]. Você tem, como lógica, que manter a política de dominação que é secular no Brasil.”
Lula fez esse discurso em 2000, censurando os projetos idealizados pelo PSDB, origem do Bolsa Família. Os tempos eram outros e a ironia não poderia ser maior: amargurado por seguidas derrotas nas eleições presidenciais — incluindo duas para Fernando Henrique Cardoso, ainda no primeiro turno —, o Luiz Inácio de então atacava justamente aquela que funcionaria como pedra basal no projeto de poder petista.
Melhor dizendo, a pedra basal que o PT ainda pretende fazer funcionar.
Hoje cumprindo pena por corrupção e lavagem de dinheiro, Lula deveria estar limitado em suas ações, mas, como foi oportunamente denunciado pelo Ministério Público esta semana, seu encarceramento não o têm impedido de promover reuniões e soltar pronunciamentos como se estivesse em um ordinário comitê de campanha.
Assim, direto de sua cela, e fazendo jus a sua própria leitura original do que seriam os programas assistenciais, Lula trata agora os nordestinos como se fossem índios do Brasil-Colônia. Afinal, a aposta do PT é justamente contar com a força do voto lulista no Nordeste, região naturalmente mais beneficiada pelo Bolsa Família.
Na verdade, faz ainda pior: busca manipular memórias como se fossem espelhos e bijuterias que já não voltam mais. Tenta implantar a traiçoeira lembrança de que a vida das pessoas na região teria mudado para melhor sob sua batuta. E não por conta de uma inusitada conjuntura econômica, quando, no fundo, o Estado deveria ter se preparado para o inverno em vez de lambuzar os beiços.
A astúcia política e o pragmatismo de Lula não são exatamente uma novidade. O que vem fazendo ao longo dos últimos meses, desde que foi preso, ou mesmo nos eventos antes de se entregar para a Polícia Federal, apenas comprova que está muito acima de seus adversários nesse quesito.
Eleitoralmente, contudo, é sintomática a estratégia de prolongar ao máximo a simbiótica narrativa Haddad-é-Lula. O ex-prefeito paulistano precisa mesmo de toda a ajuda possível quando se trata de carisma e identificação com o eleitor das classes mais baixas.
Luiz Inácio falou, Luiz Inácio avisou. Resta saber agora o quanto essa estratégia será decisiva para levar mais um poste para o segundo turno de uma eleição presidencial. Com a palavra, os índios.
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