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Foto: Apu Gomes/AFP
Foto: Apu Gomes/AFP | Foto:

Para além das constatações que possam ser feitas acerca das esferas ética e criminal, muitas das quais justamente transformadas em denúncias, processos e condenações, não cabe tergiversar sobre Lula e o PT. O primeiro é um gênio absoluto quando se trata de jogar o jogo da política. Não titubeia ao se contradizer e tampouco quando precisa jogar os seus aos leões. E não só é capaz de trair a si mesmo e a seus companheiros, mas também a própria esquerda, caso determinado movimento se mostre o mais indicado para o seu projeto de poder.

Quanto ao partido, não deixa de ter os seus méritos. Se em teoria a legenda liderada por Luiz Inácio é apenas mais uma dentre tantas, na prática é a única. Não há militância mais determinada. Nem método. Muito menos convicção tão firme na estratégia de negar o óbvio para forjar narrativas e insistir nelas até que se tornem verdades incontestáveis.

Méritos assegurados a ambos — sem entrar aqui, insisto, no quesito das táticas utilizadas, bem como no da falta de pudores, esses apenas negados por aqueles comprometidos com o petismo e em irreversível estado de negação —, uma ressalva precisa ser feita: Lula pode até ser a reencarnação do Cardeal Richelieu e o PT uma máquina de vencer eleições, mas a história seria outra se eles não enfrentassem adversários tão amadores, inábeis, vaidosos e, por vezes, até mesmo covardes.

É impossível comentar sobre os personagens responsáveis pela pavimentação da hegemonia petista sem mencionar aquele que talvez tenha sido o melhor presidente brasileiro desde a reabertura política. Fernando Henrique Cardoso, jamais poupado pelo PT, é atacado até hoje como responsável direto por catástrofes das quais nem sequer participou e o seu legado ganhou o selo de “herança maldita”, mas, além de puro teatro, tal retórica nasce empapada de ingratidão.

Verdade seja dita, da falta de apetite para avançar sobre Lula quando do escândalo do mensalão, passando por inúmeras declarações vacilantes do ponto de vista da disputa partidária, FHC sempre foi inofensivo. Jamais demonstrou capacidade ou mesmo vontade de liderar o PSDB em uma campanha contra aquele que desde os anos 1970 foi seu amigo e por vezes até aliado.

Falo aqui sobre Fernando Henrique por uma questão de peso, de hierarquia, mas é claro que não faltam tucanos merecedores de serem citados nesse rol do “fogo-amigo”. O mais recente foi Tasso Jereissati, que há poucos dias veio a público fazer uma autocrítica em nome do partido.

Contudo, embora o peso da responsabilidade seja incomparável, não cabe apenas ao PSDB o fardo pela hegemonia petista na nossa política. Se o MDB opta por servir de argamassa em composições, e inclusive endossa os movimentos petistas como fez durante tanto tempo, igualmente  deve ser responsabilizado.

Ontem mesmo, diga-se, o general Mourão foi lapidar ao chamar o 13° salário e o abono de férias de “jabuticabas brasileiras”, antes de sugerir a renegociação dos juros da dívida (também conhecido como calote). Foi tão lapidar que o ainda enfermo Bolsonaro atacou duramente a sua fala. Alguma dúvida de que Fernando Haddad explorará essas declarações? Isso tudo, sem falar no ‘pito’ público que Paulo Guedes levou do candidato, deixando explícito o descompasso de ideias entre os dois.

A constatação que merece ser feita agora, dado que o PT se encaminha para retornar ao poder logo após ter sido escorraçado e com o seu líder movimentando as peças por detrás das grades, é somente uma: a de que mesmo os partidos satélites que sempre o auxiliaram nunca foram tão fundamentais quanto os seus adversários para o seu sucesso.

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