Não há espaço para ilusões ou meias palavras: sim, ao indicar Haddad como seu vice e deixar a comunista Manuela d’Ávila na espera, Lula consumou mais uma pernada no PT e na própria esquerda. Foi pragmático. Pensou em si mesmo e não no que poderia ser melhor para a legenda que comanda ou para suas afiliadas. Em outras palavras, Lula foi Lula. Ainda assim, o espectro ideológico hegemônico desde a reabertura democrática tem a chance de aproveitar esse momento e reescrever o seu caminho.
É bem verdade que já não cabe sentir pena de partidos como o PCdoB, há anos servindo de linha auxiliar para um puro e simples projeto de poder. Da mesma forma, não cabe lamentar por aqueles que ainda hoje se deixam seduzir pelas palavras de personagens como Gleisi Hoffmann. Os dias do PT ainda virgem na administração pública já se foram. Uma coisa é certa: não há mais espaço para dúvidas sobre a falta de escrúpulos do partido.
Seguramente, quem perde é o País. Para o tão propalado debate, seria mais saudável a existência de uma esquerda ponderada, moderna e intelectualmente honesta. Divorciada, enfim, do populismo barato — e tirano — que tanto grassa por aqui.
E essa oportunidade, como mencionei, surgiu. E surgiu justamente com a formação dessa chapa “Vila Madalena”, composta por Fernando Haddad e Manuela d’Ávila.
Em vez de insistir no discurso raivoso sobre luta de classes e tons de pele para uma sociedade miscigenada, caberia agora buscar um timbre mais ameno. Conciliador. Nem que fosse para resgatar um pouco da simpatia perdida após tantos e seguidos vexames.
Vale levar em conta dois detalhes: primeiro, o de que essa referência ao boêmio bairro paulistano, mais do que uma provocação, de fato vai ao encontro do zeitgeist à esquerda. Se nos ativermos aos seus influenciadores, as cabeças de chapa em questão, não faz muito sentido estético associá-los ao estereótipo do guerrilheiro. E Haddad e Manuela são apenas os exemplos mais óbvios de uma casta que tem muito mais a ver com a elite do que com o dito proletariado.
O outro detalhe diz respeito ao fato de que o tempo também passa para Lula. Está passando. Como se fosse o próprio Richelieu, o grande líder da esquerda continua mexendo as peças do tabuleiro, mas o que será do Partido dos Trabalhadores e de seus satélites quando, na prática, ele começar a ganhar ares de presidente de honra?
Até hoje, o PT cristalizou o que poderia ser rotulado como “exército de um homem só”. Agora chegou o tempo de se preparar para o “pós-Lula”. Quanto antes isso for feito, melhor será para o partido.
Já, na sua relação com a sociedade — noves fora as óbvias e fundamentais autocríticas, se realmente desejar se livrar de estigmas para retomar um caminho de relevância política — seria melhor adotar uma postura desavergonhada sobre a sua própria natureza.
Afinal, o fato de a maioria ter berço não deveria envergonhar ou servir de motivo para desabono. Pior, muito pior, seria continuar nessa batida moralmente manquitola, falsa, mais preocupada em doutrinar do que em expor seus ideais.
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