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| Foto: Alan Santos/PR e Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil
| Foto: Alan Santos/PR e Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil| Foto:

O problema maior para os opositores do governo que não se identificam com o PT já não é persuadir sobre a necessidade de Bolsonaro deixar o poder — segundo as últimas pesquisas, o número de brasileiros convencidos de que a reeleição de Jair seria danosa ao país só faz aumentar. O desafio está em encontrar uma alternativa real, viável e moderada, que demonstre força suficiente para romper o jogo casado entre petismo e bolsonarismo.

À esquerda do espectro político, dá-se um cenário parecido: quem nunca votaria em Jair não terá problemas para apostar em Lula, mas nem por isso deixa de contemplar o dia em que terá a oportunidade de votar em outro nome que não seja o de Luiz Inácio.

Eis a outra face nefasta que a polarização entre Lula e Bolsonaro impõe: não se trata apenas de sufocar o bom debate sobre visões de Brasil, mas também o surgimento de novas lideranças.

Lula disputou o governo de São Paulo em 1982 e esteve no palanque das Diretas Já!, contudo sua presença ainda interdita opções do lado do balcão, como Ciro Gomes — outro longe de ser um noviço —, Fernando Haddad e até mesmo um Guilherme Boulos.

Noutro extremo do palco, Bolsonaro conseguiu forjar um discurso que não fica de pé diante de seu histórico de mau militar e político irrelevante que sempre parasitou o sistema. É na sua figura que se cristalizou um movimento reacionário adormecido desde a reabertura democrática.

De resto, continua sendo o presidente da República. Mesmo derretendo nas sondagens, sabe-se que em épocas eleitorais o mandatário é capaz de lançar mão da máquina para fortalecer sua campanha. Pode até vir a ser o primeiro presidente a não conseguir se reeleger, entretanto é difícil imaginar que pelo menos não alcance o segundo turno. Tudo contribui para o não surgimento de opções na centro-direita.

E há também o vácuo entre os polos.

Ótimos nomes como os de Alessandro Vieira (Cidadania-SE) e Simone Tebet (MDB-MS), ambos acumulando atuações destacadas na CPI da Covid, ainda precisam construir uma imagem que transcenda as diferenças regionais, bem como os feudos que nosso establishment é capaz de engendrar para se manter vivo, à revelia de quem seja o presidente.

Para completar o quadro pouco alvissareiro para quem gostaria de ver o Brasil livre das retóricas binárias, o eleitor médio está habituado a votar em candidatos de perfil populista. É pragmático e não dá a mínima para as ditas guerras culturais, entretanto tem uma queda histórica por figuras que encarnam o estereótipo do salvador da pátria.

Ao fim e ao cabo, mora aí o principal entrave para uma renovação verdadeira, não só nos nomes, mas na forma de se fazer e enxergar a política no nosso país. Como o sistema e seus atores podem ser outros, ou agir diferente, se no fim das contas a demanda é por exatamente isso que temos hoje?

Como, se naturalizamos o fato de o sujeito avesso ao bolsonarismo e ao petismo ser obrigado a escolher entre duas opções nefastas para o debate público e a democracia, tanto uma quanto a outra já tendo demonstrado inúmeras vezes que são capazes de atropelar as regras do jogo para vencer ou se sustentar no poder?

A um ano da eleição, muita coisa ainda pode mudar no cenário eleitoral. Desgraçadamente, todavia, tudo indica que as hostes de Lula e Bolsonaro terão o seu Armagedom santo.

O último pleito evidenciou que a renovação na política não pode ser um fim em si mesmo. Quando tantos depositam esperança em políticos há quatro décadas na estrada, porém, e não em um Alessandro Vieira ou numa Simone Tebet, é hora de refletir.

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