Já faz parte da história, mas não custa relembrar. Fartos do petismo, da postura arrogante de nomes importantes do partido como Gleisi Hoffmann, impulsionados pelos inúmeros escândalos de corrupção envolvendo a legenda e sobretudo economicamente asfixiados pela gestão calamitosa de Dilma Rousseff, 57 milhões de brasileiros decidiram por bem se livrar do PT quando da última eleição, em 2018.
O detalhe é que a gana era tanta, a ojeriza pelo petismo tamanha que já não bastava simplesmente derrotar o Partido dos Trabalhadores. Escrotizar — para usar um termo caro a Jair Bolsonaro — era fundamental.
A lavagem cerebral ensejada pela catarse coletiva foi de tal monta que até hoje, se questionado, o brasileiro médio que apertou 17 movido pelo antipetismo, portanto não necessariamente fã do capitão, dirá que não havia alternativa. Que a única opção possível para livrar o país do PT era mesmo o Jair.
Não é verdade. Houve opções além de Bolsonaro. E qualquer uma delas ganharia de Fernando Haddad no segundo turno, dada a sua rejeição. Inegavelmente eficaz, a narrativa construída impunha a necessidade imperiosa de dar uma guinada. Só fazendo uma limpa geral, ainda segundo a fábula que cativou milhões de brasileiros, as coisas voltariam aos eixos — e dá-lhe discurso anticorrupção, antipolítica, pró-família e até religioso embutido nesse balaio.
A grande ironia é que pinçaram justamente alguém que personificava o que havia de mais atrasado na política, sujeito há trinta anos no ramo, tendo mudado de legenda inúmeras vezes, sindicalista, corporativista e patrimonialista, que fez questão de arrastar a família inteira atrás de si para puxar esse movimento.
Como eu dizia, porém, esse capítulo faz parte da história. O que ainda não faz e desde já tenta ser escrito, precisamente pelos petistas, busca consolidar a narrativa de que só Lula pode tirar Bolsonaro do poder. Trata-se da mesma falácia de antes, apenas com o sinal trocado.
Não era verdade que apenas Jair seria capaz de vencer o PT em 2018, assim como não é verdade que só Lula poderá bater o capitão ano que vem. Ver a mesma narrativa a serviço dos extremos prevalecendo novamente será um vexame para todos nós.
Já era evidente antes do último pleito que Jair Bolsonaro não tinha a menor condição de ser presidente da República — sua gestão só comprova esse fato. O país precisa se livrar daquele que, para além da incompetência, do despreparo técnico e da frouxidão moral, é o pior mandatário em toda a nossa história.
Sugerir, entretanto, que o único remédio seria voltar ao petismo é uma afronta à memória de parte considerável da sociedade, assim como uma ofensa à pluralidade ideológica, política e partidária. Mesmo incluindo outras opções à esquerda.
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