O desconforto com a formação dos futuros ministérios me parece geral. E não faltam motivos que o justifiquem, a começar pela quebra da promessa feita durante a campanha que estipulava em quinze o número de pastas. Já são vinte e duas.
Além disso, não bastasse Onyx Lorenzoni tecer comentários desconectados com a realidade sobre a aprovação da Previdência, defendendo que o governo não deve ceder a um “açodamento” para realizar a reforma, fica cada vez mais clara a sensação de que o responsável pela articulação política já começa perder força.
Já foi desmentido publicamente e terá de dividir poderes com o general Carlos Alberto dos Santos Cruz, nomeado para a Secretaria de Governo, que terá status de ministério.
Aliás, segundo declaração recente do senador eleito Flávio Bolsonaro, o trabalho de articulação não será apenas dele e de Santos Cruz, mas de “todos que puderem ajudar”.
Então, surge o ponto que vem suscitando certo alarido e com boa dose de razão: o excesso de militares no futuro governo.
Argumenta-se que 7 ministros com passagem pelas Forças Armadas é muito. Que, noves fora a narrativa petista, cria-se uma promiscuidade no mínimo estranha entre o braço forte do Estado e as instituições democráticas. Houve, inclusive, generais que atentassem para o risco de “contaminação política” e um esvaziamento do Ministério da Defesa.
Pois bem, receios são legítimos e antes tê-los agora do que nunca. Além disso, me parece inquestionável o fato de que o desenho e as declarações apresentadas até o momento por Lorenzoni acendem o sinal de alerta.
Contudo, até mesmo a falta de traquejo, e em alguns casos as demonstrações de amadorismo da próxima administração, contam com um aliado inconteste: o que as pessoas desejam, como a apuração das urnas deixou claro, é justamente uma espécie de reiniciação do sistema.
Nesse sentido, um patinar inicial não deverá ser criticado além da conta e com certeza será visto como pecado comum aos novatos. Parte do pacote.
Na mesma linha e, insisto, com todo o respeito ao estranhamento nesse caso, até porque comungo dele, é compreensível o desdenhar da maioria pelo excesso de militares nos principais escalões do governo.
Afinal, não deixa de fazer sentido um presidente se cercar daqueles com os quais mais se identifica, precisamente por fazer parte do seu mundo.
Bolsonaro e seus comandados enfrentarão problemas como qualquer grupo que tivesse vencido o pleito. E também pecarão pela falta de experiência, algo já comprovado, não apenas pelas falas de Onyx, mas também por participações desastradas de Paulo Guedes e dos filhos do presidente eleito.
Contarão, porém, com um aliado ainda maior do que a condescendência: pelo menos por esses motivos, não serão acusados de estelionato eleitoral.
Bem ao contrário sempre terão disponível o retrovisor para dizer que, à diferençada gestão anterior, não enganaram ninguém.
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