A aura construída em torno do juiz Sérgio Moro sempre foi justificada, ainda que contasse com uma pitada de esquizofrenia: sendo este um país fértil para toda sorte de maracutaias, jeitinhos e corrupções, dos mais variados níveis e importâncias, não haveria como um sujeito que se posicionasse contra tal sistema deixar de provocar a admiração da sociedade. Mesmo sendo esta mesmíssima sociedade partícipe e em muitas das vezes protagonista nesse dantesco cenário.
E aí, como era de se esperar, da admiração para a idolatria cega foi um pulo.
Assim, a maioria de nós — para além dos petistas e militantes à esquerda, obviamente — nem sequer piscou quando foram divulgados os áudios das conversas entre a então presidente Dilma Rousseff e Lula, nos quais os dois combinavam a entrega do termo de posse do ex-presidente para o cargo de ministro da Casa Civil, de modo a garantir-lhe foro privilegiado e assim blindá-lo da Justiça do Paraná.
Moro não pensou duas vezes em abrir para que todos ouvissem um acerto engendrado com o intuito de driblar a Justiça. Era o que precisava fazer para impedir que a tramoia seguisse adiante. Não veio ao caso o fato de a presidente e outras autoridades envolvidas nas escutas terem a prerrogativa de foro e, talvez ainda pior, a parte do diálogo envolvendo o “Bessias” ter se dado quando o fim da interceptação já havia sido determinada.
Moro não pensou duas vezes e, insisto, tampouco a maioria de nós.
Contudo, o momento em que Moro rasgou de vez a fantasia e desnecessariamente feriu a própria imagem veio bem depois. Trato aqui da quebra do sigilo do depoimento do ex-ministro da Fazenda, Antonio Palocci, prestado em 13 de abril de 2018, a seis dias do primeiro turno das eleições.
Aquele que hoje é ministro da Justiça e em tese um dos pilares do atual governo chegou a argumentar, junto ao Conselho Nacional de Justiça (CNJ), não ter havido qualquer intenção de influenciar o pleito, uma vez que o candidato do PT à Presidência, Fernando Haddad, não fora citado por Palocci. Optou pelo cinismo, portanto, ainda que exposto à pecha de ingênuo ou até mesmo de obtuso.
O ex-magistrado não foi nada ingênuo e tampouco obtuso quando, meses antes, defendeu o pagamento do auxílio-moradia, mesmo sem precisar, de modo a compensar a falta de aumento salarial aos juízes.
Moro nunca foi santo e é saudável que isso fique claro. Não há de ser apenas por esta razão, o endeusamento de políticos como salvadores da pátria, desde Collor, passando por Lula, Dilma e agora Bolsonaro, que o Brasil chegou à atual situação, todavia essa é certamente uma delas.
O que me impressionou agora, neste episódio envolvendo a revogação da nomeação de Ilona Szabó para o Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária, foi a covardia.
De fato, há quem argumente a seu favor. Dizem — inclusive gente boa com opiniões que respeito bastante — que Moro foi esperto. Que, no fim das contas, acabou garantindo margem de manobra com o governo ao recuar agora. Respeito, é claro, mas discordo. Moro decepcionou. Foi covarde e até pouco inteligente.
Szabó poderia até cair mais à frente. Não seria um grande problema. Não estamos falando aqui de uma posição fundamental para a aprovação da reforma da Previdência, para o fim da crise na Venezuela ou até para a segurança pública. Entretanto, é inegável que, para além da política, acontece uma disputa importante.
Moro não poderia ter cedido. Primeiro porque, ao fazê-lo, enviou um péssimo sinal para uma sociedade emocionalmente à deriva, incluindo um considerável número de militantes perversos nas redes sociais — tão perversos quanto os piores petistas: o de que a pressão via redes sociais funciona.
Depois, porque acabou fortalecendo o discurso do pensamento único. No caso, esse pensamento retrógrado, autoritário e truculento que não raro dialoga com a sociopatia. Haja vista a gritaria, ontem mesmo, contra a ida de Lula para o velório do neto.
Felizmente, não precisei ter o trabalho de tirar o pôster de Moro da parede. Ele jamais existiu. De todo modo, é uma pena que alguém inegavelmente importante do ponto de vista simbólico, e hoje também político, definhe a olhos vistos e de forma tão dramática.
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