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A situação de Jair Bolsonaro não é alvissareira. Para além dos imbróglios na Justiça envolvendo seus filhos, o país se vê à beira de uma crise econômica sem paralelo. Os números de desempregados e daqueles que vivem à mercê da informalidade devem aumentar. Acrescente-se a isso os milhares de vítimas da Covid-19 já contabilizadas e futuras, todas insultadas por seus discursos prenhes de obtusidade e indiferença.

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A hipótese de impeachment é incerta e ainda falta um bocado para 2 de outubro de 2022, quando teremos o primeiro turno das próximas eleições presidenciais. Bem antes disso, em apenas quatro meses, o vento poderá mudar se o candidato democrata, o ex-vice-presidente Joe Biden, vencer Donald Trump na disputa pela Casa Branca.

O efeito dominó que uma derrota de Trump desencadearia é tão provável quanto sua vitória em 2016 foi determinante para o surgimento de uma onda anarco-conservadora mundo afora. Contudo há mais do que uma guinada ideológica em jogo: o sucesso da oposição americana poderia indicar o caminho para a brasileira.

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Faz sentido, entretanto nada indica que será fácil. E assim se dá nem tanto pelos resultados em estados-chave, como Pensilvânia, Michigan e Wisconsin.

A compreensão do momento por parte dos oposicionistas nos Estados Unidos é tal que independentes e até mesmo republicanos vêm somando forças para colaborar com os democratas e levar Biden à vitória. Inclusive lançando um grupo organizado — The Lincoln Project —, que já provoca reações do presidente com anúncios pesados contra sua gestão. Por aqui, todavia, o clima é outro.

Maior nome à esquerda do espectro político e ainda referência para uma boa parcela da sociedade, Lula não tem demonstrado interesse em se juntar ao que se convencionou chamar de frente ampla contra Jair Bolsonaro. Pelo contrário, já garantiu que o PT lançará candidato em todos os pleitos e ironizou a sugestão de que o partido deveria fazer uma autocrítica.

Não bastasse isso, são cada vez mais comuns as situações em que formadores de opinião avessos ao bolsonarismo lançam argumentos inquisitórios contra aqueles que anularam o voto em 2018, ou os que se mostram arrependidos de ter apoiado o presidente.

São resolutos em rechaçar tudo o que Bolsonaro representa e dizem não imaginar flagelo pior, entretanto não abrem mão de cultivar os mesmos sentimentos que ao longo dos anos vêm caracterizando suas posturas no debate público: autoindulgência e a convicção de integrar uma casta moralmente superior.

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Houve um debate recente em que Ciro Gomes (PDT), Marina Silva (Rede) e o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) dialogaram como verdadeiros democratas preocupados com o destino do país. Sem dúvida um sinal animador, mas ainda tímido frente aos passos necessários para recolocar o Brasil no rumo civilizatório, suplantando discursos bizantinos e recuperando sua imagem no exterior.

Nesse sentido, o comportamento dos americanos determinados a fazer de Donald Trump presidente de um só mandato deve servir de exemplo.