Como se sabe, James Carville não pensava no Brasil quando cunhou a expressão “é a economia, estúpido”. Bem ao contrário, o estrategista da campanha de Bill Clinton à Presidência em 1992 mirava na recessão americana para derrotar George W. Bush. Ainda assim, sua frase resume bem o desenlace das nossas eleições mais recentes. Se observarmos cada uma delas a partir de 1989, fica fácil relacionar os momentos econômicos pelos quais o país atravessava e as respectivas chapas vitoriosas. E vale pontuar que os paralelos não se aplicam apenas aos triunfos, mas também influenciaram as maiores derrocadas da nossa República.
Não há dúvida, por exemplo, quanto à relevância do Plano Real para o projeto político de FHC. Já em relação a Lula e o PT, a agenda de Palocci, o ciclo virtuoso das commodities e o advento do pré-sal foram decisivos. Inclusive para contornar escândalos como o do mensalão.
Collor e Dilma representaram a contraprova dessa tese, por assim dizer. As patinadas de uma equipe econômica, a falta de transparência e os estelionatos eleitorais protagonizados durante seus governos foram decisivos para a perda de sustentação política e, consequentemente, do próprio mandato.
Contudo, a sentença de Carville ganhou o peso de um dogma para boa parte do chamado “mercado”, como se nada mais interessasse durante uma corrida presidencial. Ou, pelo menos, como se nenhum outro fator merecesse lugar na mesma prateleira.
Pois trata-se de um equívoco.
Por mais gabaritados que sejam, os assessores econômicos dos candidatos não são seres de luz. A simples presença deles não basta para viabilizar projetos, nem tampouco dispensa um olhar mais cuidadoso acerca dos postulantes, de suas trajetórias e das décadas que defenderam agendas por vezes contrárias àquelas propaladas hoje com a maior naturalidade.
É preciso dizer que políticas públicas e questões de caráter humanitário, como o apreço pelas agendas das minorias — muitas pertinentes e hoje em dia espremidas por conta da disputa ideológica —, também são importantes, ainda que não pareçam temas tão sedutores. E que, de todo modo, as próprias reformas na economia correm enorme risco se forem ignoradas as engenharias necessárias para suas implementações.
Sinto dizer, mas não basta conhecimento técnico para pôr em prática as transformações necessárias após o estrago provocado pelo petismo nos últimos anos, com ênfase para a nova matriz econômica e a arrogância de Dilma Rousseff.
Deve existir habilidade na hora de negociar e apoios importantes para fazer com que essas negociações não sejam demoradas ou custosas do ponto de vista político. Acima de tudo, é necessário que se tenha clareza a respeito de onde se deseja chegar. Não há tempo para meias-palavras ou quedas de braço.
Não, não é só a economia.
Mais do que nunca, dado o estado emergencial do país, precisamos analisar o pacote completo. A experiência política do candidato e a capacidade do seu time econômico são fundamentais. Isso não se discute e nem sequer deveria ser colocado em pauta.
Alto lá, porém, com todo o resto.