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Não fui eu

Foto: Albari RosaGazeta do Povo (Foto: )

Com o fim do período eleitoral se aproximando e a crescente perspectiva de que Jair Bolsonaro seja eleito, aumenta a pressão em cima dos eleitores decididos a anularem seus votos. Para além da nossa incapacidade em aceitar comportamentos que firam o senso comum, há quem inclusive apele para a chantagem emocional. Lamento, mas nessa eu não caio.

É consideravelmente irônico o sujeito optar pela imposição do seu ponto de vista para combater o autoritarismo, porém o desserviço proporcionado por tal retórica extrapola a incoerência. Também desvia a crítica de quem é indiscutivelmente o maior responsável pela fundação do bolsonarismo: o próprio PT.

Felizmente, começam a surgir vozes de onde menos se esperava apontando para essa origem. Tratando-se de um cenário polarizado, em que as pessoas tendem a questionar a legitimidade de posicionamentos contrários, melhor assim.

Fernando Gabeira e Eduardo Jorge há tempos batem nessa tecla com lucidez invejável, mas, do alto de palanques a favor de Haddad e discursando diretamente para a sua militância, Cid Gomes e Mano Brown expuseram a falta de autocrítica petista com requintes de heroísmo.

Entendo perfeitamente a apreensão das pessoas com a perspectiva de um governo bolsonarista. Entendo, pois condivido dela.

Não se trata apenas da boçalidade desavergonhada com a qual o candidato se refere a gays e negros, ou por extrapolar o seu desinteresse por bons modos quando fala sobre as mulheres. Envolve tudo isso, mas é igualmente trágica a sua óbvia inaptidão para o cargo. Todos os sinais emitidos até aqui são típicos de quem não faz ideia do desafio que terá pela frente.

Entretanto, Bolsonaro já é uma realidade. E, em vez de atacar o cidadão avesso à dicotomia entre petismo e bolsonarismo, o momento pede maturidade e sabedoria para compreender tudo o que se deu neste país ao longo de quase duas décadas. Sob pena de seguirmos caminhando em círculos, presos em um redemoinho de intransigência e rancor. Como agora.

Não, a culpa não é minha. Nem minha, nem daqueles que, como eu, escolheram negar o apoio a dois projetos igualmente desastrosos para o Brasil.

A culpa é do PT, que decidiu virar as costas para a civilizatória passagem de bastão ensejada por Fernando Henrique Cardoso em 2002, escolhendo desde então o caminho das narrativas mentirosas para se perpetuar no poder.

A culpa é do PT, por ter se recusado a governar para todos os brasileiros. Por ter, não apenas plantado, mas regado de maneira incansável a semente do divisionismo. Por ter segregado, atacado e por vezes ridicularizado brasileiros com visões de mundo distintas das suas, em vez de lutar para conquistar a sua confiança, o seu respeito.

A culpa é do PT, enfim, se até mesmo um salto no escuro como esse projeto de Jair Bolsonaro e o seu discurso abjeto são preferidos pela maioria em lugar do seu retorno ao poder.

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