
Em 6 de setembro de 2018, a rejeição ao PT já pautava a disputa pela presidência. O golpe desferido por Adélio Bispo sacramentou o seu resultado. Quase dois anos se passaram e uma nova tragédia sorri para Jair Bolsonaro: a Covid-19 impõe ao presidente o personagem que mais se adequa à sua natureza.
Pesquisa DataFolha da última quinta-feira (13) revelou que 37% dos brasileiros avaliam o governo como bom ou ótimo. Um recorde para a administração, justamente quando passamos de cem mil mortos e três milhões de infectados pelo novo coronavírus. Também houve queda drástica na rejeição (de 44% em junho para 34%).
Os dados foram impulsionados principalmente pelos nordestinos que solicitaram o auxílio emergencial de R$ 600,00. Nada menos que 40% dos habitantes da segunda região mais populosa do país fizeram o pedido.
Faz sentido.
Enquanto a elite intelectual e próceres do bolsonarismo se esgoelam por meio de artigos e nas redes sociais, a população carente está interessada em ter os seus problemas solucionados.
Os pobres sofrem como ninguém a falta de serviços básicos de qualidade. Promessas feitas durante a campanha não devem ser esquecidas, incêndios na Amazônia e crimes de lavagem de dinheiro importam. Todavia nada supera a necessidade de botar comida na mesa.
Identificar astúcia onde menos se espera é tentador, porém seria um erro pintar Bolsonaro como um Maquiavel redivivo. Não houve perspicácia. Houve sorte.
Em um primeiro momento, o presidente ignorou a chance de cortar o baralho lulista no Nordeste. A proposta inicial do governo foi de R$200,00. Os quatrocentos mangos de lambuja devem-se ao Congresso.
Faltou visão ao mito, contudo o deputado com 27 anos de baixo clero nas costas finalmente emergiu. Eleitor de Lula e Ciro Gomes, crítico feroz de privatizações, representante clássico do clientelismo e do patrimonialismo, Bolsonaro parece ter assimilado a lição.
Não há de ser por acaso que, na mesma quinta-feira em que os números do DataFolha foram divulgados, o presidente lascou um sonoro “qual é o problema?”, ao ser perguntado sobre a possibilidade de furo no teto de gastos. Se faltava um “e daí?” para a turma da Faria Lima, fiadora do ideário liberal defendido por Paulo Guedes, não falta mais.
A busca do governo por associações com as bandeiras anticorrupção e do liberalismo econômico motivou-se por uma necessidade eleitoral. Casamentos de conveniência que tiveram em Moro e Guedes os noivos ideais.
Aquele momento passou. Bolsonaro agora troca de pele e de eleitor.
“Lamentavelmente você tem uma parte da sociedade que pelo alto grau de empobrecimento é conduzida a pensar com o estômago não com a razão”, afirmou Lula, antes de assumir a presidência.
Uma vez eleito, o líder petista dobrou o número de famílias assistidas pelos programas iniciados no governo de Fernando Henrique Cardoso.
Bolsonaro tem a chance de seguir o mesmo caminho.
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