Jair Bolsonaro e seus filhos, além de bolsonaristas ferrenhos, não se cansam de bufar contra a imprensa. Questionam o posicionamento de veículos de comunicação, ameaçam, generalizam nas críticas e alegam a existência de uma fabricação de fake news talhadas para desestabilizar o futuro governo. Ora, se realmente desejam culpar alguém pela abundância de notícias negativas relacionadas à administração que começa em poucos dias, deveriam se olhar no espelho.
Na verdade, exceção feita ao vice, general Hamilton Mourão — em princípio o único com capacidade para se comunicar de maneira inteligível, sem descambar para grosserias, infantilidades ou mesmo conspirações amalucadas —, a maioria dos integrantes no primeiro escalão cansou de dar tiro no pé até aqui.
Pergunto: alguém obrigou Paulo Guedes a tratar publicamente de privatizações como se não fosse este um país repleto de castas e mudanças radicais não devessem passar por ritos?
Teria Eduardo Bolsonaro sofrido pressão para falar mais do que deveria sobre a reforma da Previdência durante uma reunião no exterior? Mais que isso: a deixar esse encontro com integrantes do governo americano usando um boné de campanha?
Vale registrar, até hoje não há notícia de vivalma que tenha instado Carlos Bolsonaro a redigir mensagens alardeando a hipótese de que pessoas próximas ao futuro presidente tenham interesse na sua morte.
Idem em relação à postura de Flávio Bolsonaro quando se posicionou publicamente contra a candidatura de Renan Calheiros à presidência do Senado; tampouco a Onyx Lorenzoni para tergiversar sobre o escândalo envolvendo pessoas loteadas no gabinete do deputado e senador eleito na Alerj, boa parte delas tendo repassado quase a totalidade dos seus salários ao misterioso José Carlos de Queiroz.
A lista de grão-mestres do bolsonarismo ou pessoas próximas ao seu núcleo duro que alimentam a mídia e a opinião pública de dúvidas não para por aí. Desde o início da corrida eleitoral até este momento, não houve um único dia em que o amadorismo da futura administração deixasse de ficar explícito na sua falta de traquejo para se comunicar ou em episódios de contradições gritantes envolvendo temas-chave para o Brasil.
Esta é a realidade. Ainda que, seguindo o melhor estilo petista de enfrentar problemas criados por seus próprios pares, Jair Bolsonaro disponha de um rolo compressor determinado a apostar no “nós contra eles” para calar seus críticos.
No fim das contas, o maior dos problemas não está em defender-se de cobranças, algo legítimo e comum a todos os governos, mas em aceitar que elas fazem parte do sistema democrático.
E em reconhecer que a expectativa, reiterada inúmeras vezes, dizia respeito a uma nova maneira de fazer política.
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