Foto: MAURO PIMENTEL AFP| Foto:

Acabou. A militância tentará de tudo para desviar o foco, o núcleo duro do clã bolsonarista deve apelar para o antipetismo e o ódio à imprensa, quem sabe até surjam militares minimizando o episódio, mas a verdade é que a retórica na qual a chapa vencedora se apoiou durante a campanha eleitoral, de que se iniciaria uma era sem espaço para artimanhas e movimentos típicos da política tradicional com a eleição de Jair Bolsonaro, se encerrou hoje. E com apenas 17 dias de mandato.

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Não faz sentido medir as palavras em relação à postura do senador eleito Flávio Bolsonaro de recorrer ao STF para pedir a anulação das provas colhidas até agora pelo Ministério Público do Rio de Janeiro nas investigações sobre as movimentações incomuns de seu ex-assessor, Fabrício Queiroz. É nojenta. É vexatória. Um escárnio. Desrespeito absoluto, acima de tudo, com os milhões de brasileiros que, ao contrário de mim, abraçaram sem pensar duas vezes o bolsonarismo.

A decisão do ministro Luiz Fux, levando em conta que os fatos são prévios ao mandato de senador, merece ser contestada. Contudo, nada pode ultrajar mais quem acompanhou o último pleito de perto do que o cinismo de uma turma capaz de passar anos batendo forte no bumbo do moralismo, e que agora, quando se vê na condição de tomar decisões, se comporta exatamente como aqueles que dizia combater.

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Pois, sim, não é suficiente o cenário dantesco do ponto de vista civilizatório e intelectual, haja vista o baixo nível da maioria dessa trupe de bolsominions eleitos que passam o dia escrevendo boçalidades nas redes sociais, também há um calo moral.

E, por favor, que dobrem a língua antes de falar do PT.

Não que eu seja capaz de defender o Partido dos Trabalhadores ou mesmo diminuir os crimes cometidos por seus líderes contra a sociedade. A questão é que, justamente pelo fato de o petismo representar o que houve de mais ignóbil neste país em sua história política recente, são incabíveis quaisquer tentativas de comparações.

Por isso, e pela razão mais óbvia possível: foi justamente graças ao antipetismo, à campanha baseada nesse sentimento de repulsa que a população passou a nutrir por Lula e seus asseclas, que Bolsonaro chegou à Presidência.

Portanto, não me venham agora falar em PT.

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Digo mais. O sujeito que ainda hoje continua a batucar sobre o quanto Gleisi Hoffmann, Fernando Haddad e bela companhia são pérfidos, das duas uma, ou se vê possuído por uma obsessão que abafa qualquer poder de discernimento, ou, quem sabe, enxerga oportunidades junto ao status quo.

Afirmo sem medo de errar, e dessa vez nem é tão difícil: não é por causa da esquerda que a carreira política dos bolsonaros se descortina entremeada por atitudes comuns à velha política. Não cabe à esquerda responder pela desaforada promoção do filho do Vice-Presidente, general Hamilton Mourão. Tampouco as demais boquinhas que pulularam nos últimos dias, ou a postura débil do presidente em relação ao envolvimento dos militares na reforma da Previdência, pode ser atribuída aos opositores.

A verdade, isso sim, é que, no afã de mudar, nos contentamos com a estética. Não nos preocupamos com a qualidade e nem tampouco com o conteúdo.

A boa notícia, insisto, é que o encanto acabou.

A partir de hoje, só acredita na nova era quem se sentir culpado pela mentira que ela representa.

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