Crivella: Tânia Rego/ Agência Brasil – Doria: José Cruz/ Agência Brasil| Foto:

Ninguém mais do que o carioca sabe disso, mas, para além do conjunto de estereótipos que reúne a praia, o carnaval e uma fictícia vibe libidinosa, o Rio de Janeiro não passa de uma grande Sucupira.

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Não se trata aqui de tecer qualquer juízo de valor. É compreensível que, em certa medida, o comportamento de uma sociedade reflita o seu passado. No caso específico do carioca, por exemplo, há uma invencível consciência de que, sim, ainda existe uma Corte da qual todos fazem parte. Daí para se comportar como elite é um pulo.

Pois nesse episódio envolvendo a demonização de livros na Bienal, por meio de uma decisão claramente motivada por preconceito, a elite de São Sebastião finalmente encontrou o fundo do poço.

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No momento, Marcelo Crivella recebe toda a culpa. Faz sentido. Não apenas porque sua administração é um completo desastre, mas também por ele misturar o público com o privado. Por desavergonhadamente tentar impor sua visão de mundo.

Bem o diz a sabedoria popular: jabuti não sobe em árvore. Crivella não deve ser visto como um evento estranho ao nosso mundo. Tampouco estranho ao Rio de Janeiro. Certamente não a um povo que já elegeu Sérgio Cabral, Luiz Fernando Pezão, Anthony Garotinho e sua mulher Rosinha, todos íntimos do universo carcerário.

Contudo a situação extrapola o não saber votar. Tem a ver com abrir a porta para o atraso. Dar oportunidade para o obscurantismo. Permitir que um retrocesso civilizatório de proporções ainda desconhecidas se sobreponha a valores inegociáveis.

Para deixar tudo ainda pior, o Rio não deixa de ser um exemplo perfeito do que hoje é o Brasil. Basta ver o resultado das últimas eleições, a postura do governador João Doria, ou do próprio governo Bolsonaro.

A boa notícia é que houve uma reação forte de boa parte da sociedade à postura do Prefeito Crivella. A ruim é que o sarrafo do nosso debate nunca esteve tão baixo. Pelo menos desde a reabertura democrática. Estamos nos habituando a discutir questões que causariam espanto em sociedades mais evoluídas.

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Cabe agora enfrentar, já que optamos por mergulhar fundo nessa espécie de fissura temporal, em que nossos líderes testam a resiliência dos verdadeiramente liberais, buscando a todo instante estabelecer padrões de comportamento inimigos da democracia.

Apenas vale registrar o parâmetro estabelecido: no ano da graça de 2019, em uma das capitais mais importantes do Brasil, que no exterior se confunde com a imagem do próprio país, livros foram censurados em uma inequívoca ode à intolerância.

Sim, é o fundo do poço.