Não seria sincero se dissesse que me surpreendi com as manifestações do último 7 de setembro. Para além de pequenos ajustes que atendessem à recente escalada no confronto ao Supremo Tribunal Federal (STF), era de se esperar que Bolsonaro lançasse mão do mesmo script adotado desde o primeiro dia de mandato: ataques às instituições, promessas de ações disruptivas e ameaças à democracia.
Dessa vez, porém, o tom pretensamente revolucionário levou parte da turba mesmerizada a de fato acreditar em seus arroubos golpistas. E a pantomima, que não deveria ter passado de uma ação de campanha eleitoral antecipada, saiu tanto de controle que acabou gerando uma paralisação de caminhoneiros.
O enésimo recuo, embora com o inusitado auxílio do ex-presidente Michel Temer, tampouco não espantou quem já está familiarizado com a tática do capitão. É claro que em pouco tempo Jair será obrigado a cuspir novas batatadas contra as instituições e a democracia. É isso ou correr o risco de nem sequer disputar o segundo turno em 2022.
Tratou-se de um espetáculo ao mesmo tempo divertido e melancólico. Divertido porque em menos de 48 horas o ministro Alexandre de Moraes passou de “canalha” a “professor e jurista”; melancólico porque as imagens dos atos golpistas confirmam que o bolsonarismo conseguiu intoxicar milhões de brasileiros. Muitos deles ainda haverão de se arrepender por terem apoiado um movimento tão asqueroso e autoritário.
É importante dizer que o bolsonarismo já marcava presença antes de Bolsonaro. Jair é apenas um corpo hospedeiro que os reacionários encontraram quando os crimes cometidos pelo PT e a calamidade administrativa do governo Rousseff ofereceram a brecha para que ressurgissem.
Em 26 de outubro de 2014, Dilma foi reeleita com 54 milhões de votos. Quatro anos depois, Bolsonaro venceu com 57 milhões. Até um paramécio é capaz de perceber que o discurso que pinta o Brasil atual como uma terra de fascistas é furado. Tanto quanto o que antes enxergava comunistas em cada esquina.
Engana-se, diga-se, quem apressadamente resume o brasileiro médio a um ignorante político. Na verdade, a todo momento ele nos dá aulas de pragmatismo. Não está preocupado com ideologia, mas em pagar boletos e botar comida na mesa. Por isso não vê problema algum em trocar de fantasia a cada quatro anos.
Não foi por falta de caráter que não teve repulsa quando o mensalão e o petrolão eclodiram, mas porque a vida não estava ruim. O sentimento anticorrupção que levou Jair ao Planalto foi sincero, mas se o estelionato eleitoral de 2014 não tivesse sido revelado de maneira tão violenta, logo nos primeiros meses do segundo mandato de Dilma, talvez a história hoje fosse outra.
Há contudo uma diferença grande entre o bolsonarismo e outras doutrinas que também cooptam apoio por meio de massificação de mentiras e lavagens cerebrais: só ele tem a destruição da democracia como pilar basal. Só o bolsonarismo defende abertamente a intervenção militar e o aniquilamento das instituições.
Nesse momento, é impossível não lembrar do histórico discurso de Ulysses Guimarães em 5 de outubro de 1988, na promulgação da Carta que hoje Bolsonaro pretende rasgar: “Temos ódio à ditadura. Ódio e nojo. Amaldiçoamos a tirania aonde quer que ela desgrace homens e nações. Principalmente na América Latina”, disse, para em seguida acrescentar: “Traidor da Constituição é traidor da Pátria. Conhecemos o caminho maldito. Rasgar a Constituição, trancar as portas do Parlamento, garrotear a liberdade, mandar os patriotas para a cadeia, o exílio e o cemitério”.
Que as palavras de Ulysses jamais sejam esquecidas. Que o bolsonarismo, seus representantes e quem mais ousar torcer o braço da democracia contem com esse mesmíssimo tratamento.
Para além da fiscalização constante, do apoio às instituições e da cobrança para que a Justiça não deixe eventuais cometimentos de crimes impunes, que recebam o nosso ódio e o nosso nojo.
E só.
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