O presidente Jair Bolsonaro tinha uma chance rara, quiçá única de se posicionar perante a comunidade internacional. Após o governo brasileiro levar surras contínuas de grandes potências e da imprensa em todos os cantos do planeta, o momento pedia moderação. Suscitava uma fala conciliadora, que demonstrasse ao mundo o interesse do Brasil em dialogar. Um discurso capaz de direcionar a nossa imagem de momento — de inquestionável pária internacional — para um espectro mais afeito à nossa histórica reputação diplomática.
Pois o presidente desperdiçou a chance que teve.
Foram dois os problemas na fala de Bolsonaro: tom e conteúdo. Em vez de se demonstrar afável, o mandatário brasileiro partiu para a briga. Conseguiu, em pouco mais de trinta minutos, desdenhar do tamanho de toda a Europa ocidental, fazer críticas veladas à França e, claro, culpar a imprensa por todas as acusações que recaem sobre a sua administração e a visão de mundo que ela tanto defende.
Quanto ao conteúdo, é impossível, para quem esteve dentro do auditório, fugir dos olhares que os estrangeiros trocavam durante o discurso. Eram semblantes de pessoas aturdidas. Pura estupefação.
A questão não é difícil de entender, mas merece ser explicada: embora figure como um dos grandes, senão o maior dos temores na visão do presidente, “Foro de São Paulo” não é uma expressão capaz de provocar impacto em uma plateia global. Idem para termos como “petista”, ou nomes como o do ministro Sérgio Moro.
No fim das contas, é como se o presidente tivesse viajado até Nova Iorque para não sair do lugar. Falou em um ambiente esplêndido, às margens de um rio importante e em uma cidade que traduz como nenhuma outra o sentido de cosmopolitismo. Contudo poderia muito bem ter oferecido o mesmo falatório em cima de um carro de som na Avenida Atlântica ou na Paulista.
Refaço o raciocínio. Não se trata de “como se”. O presidente de fato discursou para o seu público. Falou, não como chefe do Executivo, mas como um eterno deputado em campanha.
Após o discurso do presidente, já no hotel em que a delegação brasileira ficou hospedada, conversei aqui e acolá com membros da comitiva. Todos estavam eufóricos com o discurso, e eu os entendo: a vinda para cá jamais teve como foco o desembaraço do momento em que o país se encontra. Bem ao contrário, para além de possíveis prejuízos que a nossa economia possa sofrer, o isolacionismo brasileiro não só é preferível como desejado.
Do ponto de vista de quem pretende se perpetuar no poder, a breve passagem da cúpula maior do governo brasileiro em Nova Iorque foi um sucesso. Afinal, acenar para os seus e dar uma banana para os detratores, ainda por cima em grande estilo, é tudo o que poderiam desejar.
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