
“O presidente tá isento disso aí porque não teve participação. O que apareceu dele é irrisório, uma quantia pequena, e ele mesmo já explicou. Acredito que não vá atingi-lo”. A declaração é de Augusto Heleno, general da reserva e futuro ministro da Segurança Institucional.
Não fiquei surpreso. Ainda que seja necessária muita pachorra para elaborar de viva voz um raciocínio desses, é possível entender a posição do general, dada a sua proximidade com o presidente eleito e o fato de estar prestes a assumir um cargo no governo.
Contudo, a mesma ressalva não vale para os apoiadores de Jair Bolsonaro empenhados em atacar a mídia por desempenhar o seu papel e reativos à menor fagulha de crítica direcionada à futura administração.
O uso de boné de campanha presidencial estrangeira, demonstrações de deslumbramento via whatsapp, manipulação indevida de recursos — incluíndo um possível constrangimento e farras envolvendo ex-assessores —, sinalizações de uma tímida reforma da Previdência, sem falar em discursos, na política externa, que vão de encontro à prometida liberalização econômica. Tudo vale, tudo pode. Questionar é coisa de comunista. Assim como foi de fascista enquanto o PT esteve no poder.
Ao longo da campanha, Janaína Paschoal chegou a alertar a claque hoje disposta a negar quaisquer evidências e atropelar conceitos básicos de democracia, como a liberdade de imprensa, para o surgimento de um “PT ao contrário”. Estava certa.
A pior faceta nesse encanto febril pela nova gestão extrapola a torcida. Durante o período pós-eleição, em especial, é natural que a maioria das pessoas se mostre otimista em relação ao futuro. Assim como é compreensível o desejo de ver as próprias escolhas surtindo o efeito esperado.
O grande problema está justamente nessa apropriação de uma retórica até pouco tempo duramente criticada. Afinal, qual o sentido de ter destronado o petismo se o modus operandi argumentativo e a cegueira continuarão servindo como referência?
É curioso imaginar a reação de alguém porventura alheio aos acontecimentos durante os últimos anos e só agora desperto para as notícias de momento. Na certa, não teria dúvidas em apostar que o Partido dos Trabalhadores continua dando as cartas, tal é a semelhança entre os argumentos usados por petistas ontem e hoje.
A minha esperança é que estes, hoje intransigentes na defesa da corte de Jair Bolsonaro, caiam em si com o passar do tempo.
No fim das contas, já não existem mais bichos-papões como o Foro de São Paulo ou Lula para serem derrotados, mas um país para ser administrado. E um novo governo que se vendeu com a promessa de fazer as coisas de maneira diferente.
Pois, que honrem a palavra dada.
A começar por seus súditos.
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