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“Iremos iniciar o protocolo de hidroxicloroquina + azitromicina. Por favor, NÃO INFORMAR O PACIENTE ou FAMILIAR sobre a medicação e nem sobre o programa”.
O escândalo da Prevent Senior revelado pela GloboNews, em que o plano de saúde escondeu de pacientes que eles seriam submetidos a experimentos com “kit covid” para avaliar a eficácia da hidroxicloroquina e da azitromicina, e em seguida ocultou suas mortes, mancha de sangue as mãos do presidente da República.
A matéria revela que assessores informais do presidente, aqueles que inntegravam o absurdo “gabinete paralelo”, tinham total conhecimento das práticas abusivas e criminosas da operadora. Tanto que havia um pacto para que a Prevent Senior fosse blindada de críticas.
A reportagem descortina ainda que Nise Yamaguchi, a médica oncologista que chegou a flertar com o cargo de ministra da Saúde, visitava com frequência a sede do plano para supervisionar e “alinhar” os tratamentos precoces ministrados em pacientes internados com Covid-19.
São essas as pessoas nas quais Jair Bolsonaro confiou. Foi com essas pessoas que Jair Bolsonaro se reuniu. Foi por meio dessas práticas e desses estudos que Jair Bolsonaro fortaleceu ainda mais sua narrativa de que existia um tratamento milagroso capaz de salvar vidas, espalhando desinformação e notícias falsas que comprovadamente levaram à morte milhares de brasileiros.
Em 18 de abril de 2020, no seu perfil do Twitter, Bolsonaro citou números favoráveis ao tratamento com hidroxicloroquina, deu a entender que a droga salva vidas e louvou as estatísticas trazidas pelo CEO e dono da Prevent Senior, Fernando Parrillo. O entusiasmo ao final da mensagem é de uma irresponsabilidade criminosa: “o estudo será publicado em breve!”.
Em uma de suas lives, Jair chegou a receber o diretor executivo da operadora, Pedro Benedito Batista Júnior, para que ele falasse sobre “esclarecedores dados e pró-atividade contra a covid”.
Os filhos do presidente, aqueles para os quais ele jamais negará um filé mignon e tampouco se furtará a interferir no COAF e na Polícia Federal, reforçaram o coro a favor da Prevent Senior.
Ainda no Twitter, o senador Flávio Bolsonaro também enalteceu a Prevent Senior, citando o “protocolo” que teria reduzido o tempo de uso de respiradores. Em tom de indignação, Flávio criticou o SUS por não ter se interessado em perguntar à operadora que remédios estavam sendo utilizados.
Já o deputado Eduardo Bolsonaro, sempre na mesma rede social, parabenizou publicamente o plano de saúde pela “pesquisa séria, feita com ciência e não com politicagem disfarçada de medicina”.
O negacionismo de Jair não surpreende. Ao longo dos últimos meses, houve deboche da gravidade da doença, tentativa de burlar dados oficiais e ataques a medidas que buscavam diminuir o contágio, como o uso de máscara e o distanciamento social. Até mesmo a vacina foi motivo de afronta.
Desta vez, porém, surge um novo elemento: o endosso explícito a picaretas que lucravam enquanto pessoas morriam sem saber que estavam sendo manipuladas como cobaias. Com o requinte de terem tido suas mortes mascaradas depois.
Trata-se de um crime horripilante, que faz lembrar práticas nazistas e precisa ser apurado com o maior rigor possível para que os responsáveis sejam levados à Justiça.
Esquecer daqueles que durante a maior crise sanitária em cem anos endossaram o charlatanismo, contudo, prestaria enorme desserviço ao país. Tanto imediato, permitindo reposicionamentos oportunistas de quem até ontem desdenhava do sofrimento de centenas de milhares de brasileiros, quanto do ponto de vista histórico.
É fundamental garantir que as próximas gerações, ao se debruçarem sobre esse momento trágico da nossa história, saibam quem esteve do lado da ciência, apoiando os especialistas, e quem enxergou na luta pela sobrevivência contra um vírus mortal a chance de se consolidar no poder, de travar embates ideológicos e até mesmo de fazer dinheiro. Os Bolsonaros, sobretudo o presidente da República, estão no segundo grupo.
Ao fim e ao cabo, impeachment seria pouco para Jair. E a derrota em 2022 também será.