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Foto: Ricardo Stuckert
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O título original deste texto era outro: “Saudades do PT”. Convenhamos, seria um pouco demais.

Segundo o pai dos burros, saudade pode ser traduzido como “sentimento nostálgico causado pela ausência de algo, de alguém, ou pela vontade de reviver experiências, situações ou momentos já passados”. Nutrir nostalgia pela ausência do Lula, da Gleisi Hoffmann ou do José Dirceu no poder? Parece-me insólito. Vontade de reviver experiências? Tampouco. Afinal, já mais que bastam as experiências que vivemos com o Partido dos Trabalhadores. Muitas delas nocivas para a nossa democracia. Suficientemente cáusticas a ponto de envenenar boa parte da sociedade, que acabou vendo no radicalismo às avessas a única forma possível de combater a hegemonia petista.

Assim, descartada a saudade, fiquei com o pior. E desta vez cabe.

Pode surgir alguém argumentando que não é justo comparar um governo com menos de 6 meses de vida a outro que ficou quase 15 anos em voga, sem falar nas diferentes circunstâncias pelas quais cada um passou? Pode. E teria razão no argumento, se eu estivesse comparando a obra inacabada de Jair Bolsonaro à de Luiz Inácio e Dilma Rousseff. Acontece que a comparação é outra. Quase estética.

A culpa não é minha. Culpem a falta de decoro, os embates praticamente diários, a frouxidão do presidente para controlar seus rebentos e enfrentar ervas daninhas como Olavo de Carvalho. Culpem também as desastrosas escolhas para as chefias da Educação e do Itamaraty. Apontem o dedo, enfim, para a absoluta inaptidão de Jair Bolsonaro ao cargo para o qual foi eleito. É por conta desse cenário que me vejo aqui, não cobrando bons encaminhamentos em agendas fundamentais para o país, mas ansiando por uma brisa que seja de sanidade. Um governo com cara de governo.

Pois, ao menos nesse quesito, eu, que passei anos criticando o Partido dos Trabalhadores enquanto foi governo — e continuarei a fazê-lo ainda por muito tempo —, devo reconhecer essa diferença.

Sei bem, ninguém precisa me relembrar os nomes e o naipe da turma que Lula apadrinhou em Brasília. Melhor dizendo, em Brasília, nos tribunais e nas estatais. Ainda assim, o bolsonarismo chegou para botar todos eles no chinelo.

A verdade é que o governo Lula tinha cara de governo. A gestão Dilma nem tanto, admito, mas por trás havia o PT. E o PT é um partido político no sentido estrito do termo. Noves fora os crimes cometidos contra os cofres públicos e a democracia, é um partido. Não tenho certeza, por exemplo, se um dia o PSL será merecedor desse título.

Enfim, é esse o ponto a que cheguei. Não me consumo mais pela urgência de termos um bom governo. Uma administração capaz de enfrentar os enormes desafios que nos aguardam. De realizar as reformas, melhorar a imagem do país no exterior, viabilizar uma educação satisfatória para as nossas crianças ou saúde de qualidade para quem não tem condições de arcar com um plano particular.

Clamo apenas por normalidade. Por um vislumbre de sensatez.

E não estou otimista com os meus anseios.

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