Com a Copa do Mundo ainda fresca na nossa memória, não é difícil entender o desenho da eleição presidencial que se avizinha: basta imaginar duas semifinais. Pois, sim, ao contrário dos quatro últimos pleitos, desde o princípio definidos pela dicotomia PT x PSDB, desta vez o cenário oferece embates em ambos os lados do espectro político.
Naturalmente, o motivo para tal mudança não poderia ser outro que não o enfraquecimento desses dois pólos. E por razões, ainda que distintas, forjadas em suas gêneses. Enquanto um paga pela voracidade com a qual assumiu o poder e dele se locupletou, o outro sofre em face à prostração inaceitável demonstrada durante mais de uma década no papel de oposição.
O caso do Partido dos Trabalhadores é mais gritante. De Antônio Palocci a José Dirceu; de José Genoíno ao próprio Luiz Inácio — sem falar em grande elenco que ainda deve satisfações à Justiça —, o maior período de hegemonia política desde 1989 só terminou graças a uma sanha típica de organizações mafiosas. Não fosse assim e certamente Lula jamais teria optado por uma saída tão arriscada quanto vender Dilma Rousseff como alguém capaz e afeita à política.
Podemos dizer que é intrínseco à alma petista o apreço pela corrupção, em especial o desvio do erário para o próprio regozijo? Não. Não é intrínseco, nem tampouco exclusivo. A história atesta que o desrespeito para com os bens públicos e a preferência pela manutenção desse sistema permeiam a maioria das siglas. Entretanto, sim, o contexto é singular.
Primeiro, porque nenhum partido usou o argumento da conduta ilibada como trampolim eleitoral de maneira tão incisiva e eficaz. Depois, porque nenhum outro ficou tanto tempo no poder. Por fim, e desta vez é inevitável se falar em DNA, devido à sua natureza autoritária. Uma coisa é certa: se a legenda comandada por Gleisi Hoffmann não fosse historicamente tão avessa à democracia, e incapaz de fazer autocrítica para combater os impulsos criminosos de seus integrantes, provavelmente não enfrentaria hoje tanta rejeição.
Quanto ao PSDB, o sintoma é diferente. Não se trata de ganância pelo poder. Aliás, é bem ao contrário. Durante anos, o partido foi visto pelo eleitor moderado como a única alternativa para combater o PT e a esquerda em geral. Contando com as vitórias de Fernando Henrique Cardoso, mais de duas décadas. Ainda assim, foi incapaz de defender o próprio legado e de resguardar o seu eleitor. Pior ainda, o abandonou ao relento. A mercê de oportunistas e despreparados.
É nesse cenário que Ciro Gomes e Jair Bolsonaro surgem para brigar por uma vaga no segundo turno.
Contudo, não será fácil. Após a aliança entre PT e PSB, na última quarta-feira, Ciro está isolado. A sorte é que, pelo menos por ora, não precisará mudar a sua natureza. Pelo contrário, pode manter a sua verve peculiar, uma vez que é esse o tom requisitado pelo eleitorado à esquerda.
Já na disputa do outro lado do campo, é imediata a necessidade de Bolsonaro em se conectar com o votante que não comprou o seu discurso. Fazem parte desse universo os indecisos, de perfil moderado e teoricamente pouco inclinados a apoiá-lo, uma vez que não o fizeram até agora, e também aqueles dispostos a mudar de ideia, caso cheguem à conclusão de que Alckmin tem mais chances de vencer o candidato ungido por Lula.
São duas semifinais. Ou, se preferirem, dois elevadores. O cenário permanece o de sempre, apenas com mais opções. Marina Silva? No caso de um embate derradeiro, seria muito forte por conta da baixa rejeição, mas é irônico imaginar que esse mesmo motivo não se traduza agora em um apelo suficiente a ponto sufocar o voto útil.
Prejuízo recorde ressalta uso político e má gestão das empresas estatais sob Lula 3
Moraes enfrenta dilema com convite de Trump a Bolsonaro, e enrolação pode ser recurso
Carta sobre inflação é mau começo para Galípolo no BC
Como obsessão woke e negligência contribuíram para que o fogo se alastrasse na Califórnia
Triângulo Mineiro investe na prospecção de talentos para impulsionar polo de inovação
Investimentos no Vale do Lítio estimulam economia da região mais pobre de Minas Gerais
Conheça o município paranaense que impulsiona a produção de mel no Brasil
Decisões de Toffoli sobre Odebrecht duram meses sem previsão de julgamento no STF