Eis que o ex-presidente Michel Temer foi preso ao cair nas malhas da Lava-Jato. O anúncio causou natural espanto, mas não surpreendeu. Afinal, outros dez inquéritos envolvendo o ex-presidente tramitam na Justiça. Contudo, pude perceber a intensificação de um sentimento sui generis, que impacta diretamente no futuro de uma agenda cara para a sociedade e de fundamental importância para o desenvolvimento do país. Uma sensação que, por tabela, respinga em outra pauta, essa talvez ainda mais importante, embora menos popular.
Refiro-me, no primeiro caso, à reação das pessoas assim que o teor da decisão do juiz Marcelo Bretas ficou disponível. Não houve dúvidas quanto ao mérito, porém suscitou estranheza o porquê do pedido de prisão. Em tese, tratava-se de um debate afeito a quem é militante no Direito, mas logo se espalhou. E não é difícil entender a razão.
A verdade é que, não é de hoje, a gana pelo protagonismo por parte de juízes e procuradores produz uma sensação negativa. De antipatia. Não se trata apenas, como outrora, de uma implicância alimentada por determinado grupo insatisfeito com a prisão deste ou daquele político, e sim de um desconforto mais amplo. E crescente.
Aquele entusiasmo que eclodiu durante as manifestações em 2013 por alguns integrantes do Judiciário e do Ministério Público foi genuíno. Tanto assim que transcendeu inclusive agendas mais importantes do que o combate à corrupção. Pois, hoje, está diferente. Mudou, insisto, graças ao estrelismo exagerado de figuras como o procurador Deltan Dallagnol e seu discurso quase messiânico, empapado de demagogia.
O que percebi foi, senão a defesa, uma forte ponderação a respeito da legitimidade do pedido de prisão de um ex-presidente sob todos os aspectos impopular. Foi sintomático. E não parou por aí.
Após a atrevida e por que não dizer vergonhosa tentativa por parte do MP do Paraná de criar uma fundação que gerenciaria R$ 2,5 bilhões — referentes à multa imposta pelo governo americano à Petrobras por prejuízos causados a investidores —, seguida do bate-boca entre o Ministro da Justiça, o ex-juiz Sérgio Moro, e o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, existe ainda a forte crença em uma retaliação por parte de Bretas.
No fim das contas, a força-tarefa da Lava-Jato reforça cada vez mais a imagem de player político. Com isso, envenena o debate sobre a sua atuação e possíveis desdobramentos em outras áreas.
Falo em outras áreas pois, voltando à citação feita no primeiro parágrafo, é inevitável que tudo isso não se choque com a reforma da Previdência.
Pois, sim, se há uma queda de braço envolvendo o Ministério Público, o Congresso e até o STF, desta vez constrangido a tomar uma decisão impopular, na melhor das hipóteses a reforma fica de lado. Na pior delas, leva a classe política, já ressabiada após a proposta casada imposta pelos militares no dia de ontem, pela qual acabam cedendo menos do que se esperava, a adotar uma postura intransigente.
Como se nada disso bastasse, Carlos Bolsonaro, sempre ele, resolveu atacar nas redes sociais o presidente da Câmara, aliado fundamental do governo para a reforma da Previdência, questionando o porquê de ele “estar nervoso” — lembrando que o ex-governador Moreira Franco, também preso hoje, é casado com a sogra de Rodrigo Maia.
Em resumo, se pelo menos até o meio da tarde o governo poderia dizer que nada tinha a ver com o fuzuê, o filho do presidente não se aguentou e fez questão de deixar claro o que, a essa altura, ninguém pode duvidar: se a reforma da Previdência não é prioridade para muitos, o primeiro da fila é o próprio governo, que sabota a pauta dia sim, outro também.
Como a garotada costuma dizer, parabéns aos envolvidos.
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