“Não nasci para ser presidente e sim militar”, declarou Jair Bolsonaro durante evento com servidores na última sexta-feira. E não foi só. Também admitiu que às vezes contesta o Divino acerca do peso imposto pelo cargo que hoje ocupa (“Meu Deus, o que eu fiz para merecer isso?”). Por fim, em encontro com jornalistas, aquiesceu: a maioria dos seus ministros “não tem nenhuma habilidade política”.
O presidente pode muito bem ser acusado de pecar pelo excesso de sinceridade, como se vê. Particularmente, começo a concluir que levar adiante um projeto capaz de influenciar a vida de milhões, sem reunir as mínimas condições necessárias para isso, foi puro ato de irresponsabilidade — é o que se depreende quando Bolsonaro constata só agora o que desde as eleições estava claro para muitos.
Conjecturas à parte, a realidade está posta e não parece animadora para um país dependente da aprovação das reformas econômicas, a começar pela da Previdência; de uma reformulação absoluta nas pastas da Educação e das Relações Exteriores; com média de 60 mil homicídios por ano e mais de 10 milhões de desempregados.
E não é alvissareira porque o governo eleito há quatro meses incompletos (reparem, “recém-eleito” começa a cair em desuso) é ruim. Sinto pela crueza da afirmação, mas é assim a vida.
Não há de ser por acaso que o trabalho de articulação, fundamental para o desenvolvimento da atividade política, e portanto para a própria sustentação de um governo, inexiste. E não apenas inexiste como sofre diárias rasteiras por parte de quem deveria fomentá-lo.
Não há de ser por acaso que a atual administração alimenta intrigas ao permitir a publicidade de desacertos e fofocas, nesse quesito com a colaboração de pessoas absolutamente alheias à gestão, caso do chamado “guru” Olavo de Carvalho, e de Carlos Bolsonaro, filho do presidente, mas, no fim das contas, um vereador no Rio de Janeiro.
Não há de ser por acaso, diga-se, que as pesquisas começam a deixar claro o descontentamento do povo, inclusive entre grupos que ajudaram a eleger Jair Bolsonaro. O discurso de campanha ainda funciona para ouriçar incautos, mas é crescente o número de pessoas que espera pelo encaminhamento de soluções e não a promessa de mais confrontos.
Não há de ser por acaso, enfim, que, como bem salientou a deputada Tábata Amaral (PDT-SP) em entrevista publicada durante este fim de semana, o ministro Ricardo Vélez Rodríguez permaneceu longos três meses no cargo. Mesmo sem ter nenhum conhecimento ou experiência para tocar uma agenda tão fundamental quanto a da Educação. Não há de ser por acaso, aliás, que foi convidado.
Pois bem, o próprio Bolsonaro, e depois dele o vice Hamilton Mourão durante a Brazil Conference, evento organizado por estudantes brasileiros das universidades de Harvard e do MIT, apontaram que Vélez deve ser exonerado amanhã mesmo, segunda-feira.
Saiba o presidente que o país conta com isso, mas de nada adiantará se o critério para o convite continuar sendo o de rezar pela cartilha olavista, e não o de competência e conhecimento de gestão na área.
Há quem costume cobrar o governo pelos recuos até aqui. Faz parte. Contudo, eu prefiro que recuem quantas vezes forem necessárias em vez de insistir no erro. E a nomeação de Ricardo Vélez Rodríguez como ministro da Educação certamente foi um erro e tanto.
Se tudo der certo, caso as expectativas se confirmem, a esperança é a de que o presidente assuma as rédeas da sua gestão de uma vez por todas. Além de vestir a camisa da reforma da Previdência, coisa que não fez até agora, que aproveite o embalo e comece a exonerar do ministério quem, assim como Vélez, não parece entender do riscado e usa de pautas estapafúrdias para mascarar a própria incompetência.
Uma dica? Itamaraty.
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